sábado, 24 de novembro de 2012

Uma comparação entre o bom senso e o autismo: dois vetores de vida e de vivência contínua

Silvânia Mendonça Almeida Margarida Muitas pessoas que lidam com autismo se pegam surpreendidas por esta síndrome ignorada e, por vezes, não entendida. São pais que dão palestras, são pais que choram, pais que viram psicólogos e pais que refutam a síndrome e não a aceitam. As mais diversas categorias de convivências diárias, representadas no nosso cotidiano com autismo. A aprendizagem na convivência com o autismo não é algo fácil de assimilar. Reconhecer que de uma hora para outra, nova vida virá e nos fará mais sofridos não é tarefa fácil para nenhum pai ou mãe. Muitas engendragens e caminhos podem ser seguidos para a visualização do que a vida nos apresentou. Proporcionou uma síndrome que pouco conhecemos do seu lado espiritual, assim como, pouco conhecemos das suas lides diárias. Culpar a algo ou alguém é ter a plena certeza ou convicção, que, cientificamente, há algo já provado. Alimentos com glúten, sem glúten, remédios controladores do pensamento e da tarefa do dia a dia do autismo, terapias, educação diferenciada, escolas, métodos e todas os artefatos de ilusão podem ser expectativas aliciantes com a síndrome de autismo, mas apenas são expectativas. Não há nada de concreto. O autismo é ainda uma síndrome ignorada pela sociedade e pelo Estado. Mesmo com o Projeto de Lei 1631/11 criando uma política nacional no Brasil, em termos globais, ainda é muito pouco o que se pode fazer. Para todos os seres humanos a maior arma de efetivação de certa conduta é a de preparar a própria mente para a plena função do bom senso. Saber se conduzir com a devida sensatez, em todos os momentos de decisões concernentes às atuações sociais, é ter garantido um substancial sucesso no relacionamento com os indivíduos de qual quer comunidade. Para acionar o bom senso, necessariamente, devem ser levado em conta vários fatores em que venham propiciar uma escolha de ação adequada ao procedimento a ser tomado. O principal cuidado é o de conhecer profundamente o que se tem como objeto em mira de julgamento, e, desta forma, distinguir entre as hipóteses, supostamente razoáveis, aquela que mais se enquadre ao processo de efetivação do caso em questão. No preparo do indivíduo para o procedimento em pauta, há um longo caminho a percorrer sendo que o mais substancial se coloca na Educação. A educação constitui-se no suporte para todas as atitudes humanas. Ela estabelece a ponte entre o sujeito e a ação, sem deixar sombras de dúvida entre ambos os polos, em vista de marcar encontro com o sucesso por conter o esclarecimento preciso para as atitudes objetivadas na mente. O ponto que mais pode distanciar o “bom senso” de uma plataforma de vida plena e sensível é um julgamento apressado, fora de padrões pré-analisados, ou com reflexões particulares de interesse próprio. Todo julgamento deve ser transparente, com a intenção de trazer à tona a verdade sem mácula ou confundida por falsas conclusões. Quando desviado da escolha priorizada pelo acerto moral, redunda em profundos prejuízos para o próprio indivíduo em julgamento e, para a sociedade em que milita. Pelos presentes enunciados, chega-se à conclusão de que conviver é preciso e ter vida plena aprendendo a síndrome ignorada, ou seja, o autismo. Conviver, porém em alta com teses elaboradas em termos de “vida plena”, torna-se necessário um substancial preparo em que a arte de se relacionar se torne colorida pelas atitudes e hábitos saudáveis, isentos das patologias sociais. Tudo se torna realmente saudável contendo um suporte para receber os impulsos na caminhada para plataformas de maiores conquistas, se houver em função um “bom senso” regulador destas atitudes e hábitos dos indivíduos. Para René Descartes "O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm." Numa comparação contínua entre ter uma filosofia de vida e aceitar o autismo, vivenciá-lo, não somente nos dias previstos de festa, é buscar este bom senso autístico comedido. A maior parte das pessoas luta de uma forma especial a favor do autismo com a intenção de conquistar o “bom senso”. Depois de grata experiência descobre-se mais tarde que para o autismo não existem irremediáveis erros. A sabedoria deve ser constante, a cada pensamento, a cada nova vivência, a cada nova luta. É o que conduz o "sábio", ou seja, os pais e educadores a descobrir caminhos que são normativos para levar o autista a aprender a discernir os valores apropriados a uma forma de vida adequada com vista na devotada evolução. Mesmo que o autista não tenha consciência disto. A partir deste procedimento, gradativamente, através da inteligência em função, pelos pais, representantes e curadores dos seus filhos, frente à Nação, frente à sociedade civil e frente ao Estado, os bons conceitos vão se estabelecendo. As aquisições de recursos especiais ligados ao autismo que levam à sabedoria se processam conduzindo o indivíduo a um patamar transcendente, organizado de forma a propiciar salutares maneiras de refletir sobre o mundo, sobre a sociedade e sobre si mesmo. A vivência destes valores adquiridos se amplia, propiciando ao autista um modo de se interagir na sociedade com boas maneiras de relacionamento, trazendo para o meio, a melhor maneira de se relacionar. A Sabedoria humana para o autismo seria então a capacidade que ajuda os pais de autistas a identificar seus erros e os da sociedade, corrigi-los com a devida dignidade e respeito. Tratar o semelhante como gostaria de ser tratado. Zíbia Gaspareto questiona uma forma de vida em que o bom senso funciona positivamente: “Nosso subconsciente trabalha na materialização de nossas crenças. Ele não tem senso de humor. Faz sempre o que acreditamos. Não falha. Dessa forma, o fracasso não existe. Você foi sempre um sucesso! Sua vida é obra sua. Você é responsável por suas experiências. Mesmo aquelas que parecem não depender de você foram atraídas por sua forma de pensar. As coisas não vão bem? Só colhe infelicidade? É hora de perceber como você consegue fazer isso. Certamente não escolheu a atitude adequada para obter bons resultados. Mudando essa atitude, tudo se modificará. A vida deseja que você desenvolva seus potenciais de espírito eterno e aprenda a ser feliz. A felicidade é nosso destino e só o bem é verdadeiro”. Dois vetores se fazem entrever para a felicidade de ser pai ou mãe de um autista: a felicidade do antes e do depois. O resto, com certeza, virá por acréscimo. O tempo é o senhor de toda sabedoria, de toda a certeza de que pais de autistas, assim, como seus filhos podem ser felizes.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Gostaria de ter filhos autistas

silvania mendonça almeida margarida Gostaria de ter um filho autista. Por que não? Em primeiro lugar, saberia entrar no âmago do âmago do ser de alguém e descobriria lá os seus segredos. Saberia que o que passa na sua cabeça não é nada diferente das pessoas ditas normais. Gostaria de ter um filho autista para aprender o mistério das desilusões, não pela desilusão em si, mas saber que o nosso mundo ilusório pode desabar a qualquer instante, a qualquer momento, em qualquer tempo nato. Gostaria de ter um filho autista para aprender a ensinar estereotipias e dizer para o mundo que esses trejeitos são modos alegres de pensar sorrindo, sem nada afluir ou nada dizer. Não seria preciso de contos de fadas, de contos de bruxos ou gnomos, pois o silêncio já seria uma mágica no ar. Gostaria de ter um filho autista para lidar com o normal, sim, com O NORMAL. E não com o diferente. Bastaria me perguntar. O que é diferente? O que ameaça o Globo Terrestre com as suas esquisitices? Com os seus pêndulos? Com os seus rodopios? A definição de normalidade ninguém conhece. Nem sabemos de onde somos, porque viemos e para onde vamos. A normalidade é que a esquisitice. É o momento mor. Por isso e muito mais, gostaria de ter filhos autistas. Para ver o sorriso franco e sincero. Bonito e indelével. Saudável e sem mentiras. Bastaria um filho. Não precisaria de outros. Ele já me bastaria. Assumiria a minha vida e me abraçaria nos momentos intranquilos À maneira dele, me daria beijos e ao mesmo tempo, morderia os dedos, para dizer com toda firmeza. Você não está sozinho. Estou aqui. Gostaria de ter filhos autistas para vê-los fazer Nescau ou Toddy. A medição do leite é perfeita. Para vê-lo ir à escola e somente a escola já lhe apetece. Mostrar a lei da mentira para todos que não contam as verdades. Mostrar as verdades para todos que contam mentiras. Gostaria de ter um filho autista para ele repetir: “As pessoas não entendem que eu preciso de repetição para aprender coisas novas. Não consigo lembrar de tudo porque é muita coisa na minha cabeça. Sinto que muitas informações se acumulam. Eu tenho muita dificuldade de prestar bastante atenção porque me perco nos pensamentos. Prefiro estar com pessoas mais velhas porque entende a minha dificuldade e aprendo coisas novas com pessoas mais velhas. Interrompo as conversas porque o assunto não me interessa. Eu não sou uma máquina não consigo fazer as coisas ao mesmo tempo”. (Ivone Falkas). Gostaria de ter um filho autista para ele sempre me lembrar de que sou efêmero, passageiro, não sou um anjo e nem ele é especial. As pessoas têm mania de dizer que autistas são seres especiais. Não são não. São seres angelicais que em silêncio nos dão a sua lição de rebita, arrebite, ribalta. Como a dizer: “Enquanto você estiver aí do meu lado e eu aqui do outro, EM SILÊNCIO, eu consigo me orientar. A cena do autismo vai se repetir centenas de vezes, a cena se inverte, meus pais e aqueles que sentem carinho por mim. Mas ao mesmo tempo, estou abarrotando a minha alma com todos os ensinamentos que outrora eu deixei de acreditar. Sou autista sim, mas usa a palavra, a minha história, a minha verdade, pais, para fazer escola. E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar”. Gostaria de ter um filho autista para provar que a história se conta ao contrário. Primeiro você nasce em segredo, passa a vida sem falar ou mesmo balbuciar, sem aprender as garatujas da escrita, sem ler, sem frequentar a escola dos “antiquados” e depois renasce para o brilho e para a luz. Não consegue tirar carta de motorista, mas dirige aerobus, não consegue pegar ônibus, mas poderá volitar, não consegue se arrastar por pernas tortas, mas consegue ter asas para voar. Tudo depois, bem depois. São deuses e eu não sou bobo. Quero acompanhar. Ser, pelo menos, o acompanhante do terceiro escalão da quinta dimensão da sabedoria. Para os entendedores meia palavra basta. Albert Einstein, autista, um dia comentou “O fluxo do tempo é uma ilusão aborrecida e persistente“ E se tornam persistentes e aborrecidos diagnósticos, variações, vacinas, alimentação, curas. Isso seria um pouquinho importante para meu filho autista, mas não seria o fundamental. E no fluxo do tempo de Einstein, o meu filho autista diria que o tempo não importa. Por um momento, eu conseguiria fazer com que Ele deixasse o copo que roda e balança e seguraria firme com as duas mãos as cordas do balanço. Segundos depois, daria de novo a ELE o seu objeto de estima. Não esqueceria jamais de lhe ensinar a fazer bolhas de sabão e a soprar, soprar e encher o peito de “orgulho bom” para provocar alguma comunicação. Meu filho autista olharia para mim interrogativamente e sem rodopiar, abaixaria a cabeça num tom de humildade e seus olhos me diriam tudo. E mais: “Não estou pronto para começar. Virar-se-ia em seguida para mim como se estivesse a me perguntar ou a pedir ajuda. Espiar por dentro dos meus sentimentos, estendendo-me as mãos. O cuidado em se proteger e proteger-se seria a sua máxima, denotando muito mais do que um ato reflexo. É como se abreviasse ou se abrigasse, por blindagem, da atuação de outrem. Assim, ele perceberá que outra ação pode nascer da nossa convivência. Eu gostaria de ter um filho autista para narrar várias experiências que não é todo mundo que sabe vivenciar. Vou parando por aqui, porque livros ainda não pretendo escrever. Somente pensar e refletir o quão gratificante são para pais de autistas ter um motivo para chorar, ganhar, sorrir, amar e perdoar a si próprios. Um dia, quem sabe, ganho esta dádiva.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

QUEM TEM O DIREITO DE FALAR DE INTERDIÇÃO DOS INCAPAZES, NÃO TEM O DIREITO DE PERPETRAR EXCLUSÃO

Silvânia Mendonça Almeida Margarida Minha voz pode ser aquela que silenciou. Aceitou todas as obtusões em nome do autismo, das diferenças sociais, das necessidades especiais. Silenciar uma voz não é brincadeira não. É revoltante por não ser ouvida nos meios acadêmicos, na educação inclusiva, nos redutos de frequência diária, nos ambientes sociais. Falar do autismo incomoda, burla, é chato e todos fingem não escutar. E está tudo bem. A “normalidade” que o diga. Os doutores da Lei que promulguem e vigem suas normas kelsianas, positivadas. Tem até lei para o autismo. Política nacional do autismo. Projeto de lei no. 1..631 de 2011. Será que vai sair do papel? Infelizmente, não posso pagar para ver. Sou muito a favor de que realmente o Estado, AGORA, tenha entendido o que seja o princípio da dignidade humana e coloque esta política em prática, mas sem cobrar tributos. Explicar sobre o autismo, que é a diferença da diferença, explanar que não é fácil interditar um filho autista também é chato. Extremamente caótico para aquele que não quer acreditar, e, verdadeiramente, não se interessa. Quer apenas fazer bonito frente aos palcos chaplianos. Fingir que todos escutam que os Tempos são Modernos. O cinema e o teatro são mudos e silentes como a minha voz. Todos mudos. E “nós, nós”, diriam, “somos os doutores da lei, fingindo que entendemos o que é doença mental, deficiência mental, por que não dizer, loucura? Nós instruiremos vocês. Procurem nosso escritório e a curatela de seus filhos ficará em $$$$$$”. “O melhor é a interdição para não prejudicar os relativamente incapazes, os totalmente incapazes, diria o Código Civil de 2002”. A exclusão não é a pior humilhação que pais de autistas podem sofrer. A exclusão também vem de pessoas que não têm o direito de se referir às doenças mentais, porque, na verdade, não conhecem nada, nadinha de nada mesmo, não se interessaram, sempre excluíram e demandaram a exclusão. A pior exclusão é aquela que vem silente, assinada num pedaço de papel, com o atestado “vocês, pais, não têm direito a nada”, NÃO PROCUREM O ESTADO. E dizem: “seus filhos devem ser também interditados na sua capacidade civil, pois vocês também são incapazes de cuidar dos seus tutelados. Vocês não falam, não se melindram, não buscam alternativas. E, vocês, pais, não prejudiquem seus filhos, não podem depreciar seus filhos especiais”. Calem a boca! Estudem primeiro sobre o autismo e doenças mentais, estudem sobre as famílias dos incapacitantes, para depois dar depoimentos, fazer discursos, etc. Mas com a autoridade de quem é humilde, de quem as sombras não pairam sobre as dúvidas, com a autoridade de quem realmente é um Mestre. Pois, como diria João Guimarães Rosa, mestre não é aquele que ensina, mestre é aquele que de repente aprende. Retirar todos os direitos de uma pessoa com necessidades especiais são retirar todos os seus sonhos familiares, por causa de um punhado de sal. SIM, sal, mil vezes sim, sal, salário, trabalho honesto, corpo a corpo, ombro a ombro, confidências a confidências. Falar de interdição são para pessoas sensíveis, donas das sutilezas da alma, sendo doutores da lei ou não. Ora, quanta ironia! Falar de sal(ário), ou seria erário? São nos bastidores, nos palcos chaplianos da alma que todas as verdades espirituais são ditas e interditadas. Falar de interdição e prejuízos aos incapazes também são nos palcos da vida. Mas bem à vista. E todos batem palmas. E mais palmas. E todos eles ficam felizes e comentam: “todos deveriam saber sobre o Direito de Família”. Todos deveriam, pelo menos, ler a Lei Maior, nos seus artigos 1º e 5º. que se traduzem em direitos fundamentais. Os direitos fundamentais devem ser lidos e revistos, sempre, frente à dignidade da pessoa humana. A interdição do incapaz pode também ser a interdição do autista para a vida, para a tentativa, a tentativa de viver a sua vida civil, das almas dos pais do autista que participam desta vida: busca do mercado de mercado de trabalho, ações afirmativas, discriminações positivas e outros parâmetros saudáveis de inclusão. A sociedade, assim como o Poder Público, são totalmente responsáveis por uma exclusão civil. Para se falar em curatela, em inclusão, em proteção de bens materiais, primeiro é necessário agir, mostrar atitudes benéficas em favor do próximo, incluir o autista, incluir todos os incapazes. E assim, quem julga que tem a autoridade para falar em interdição, deveria rever seus processos passados e olhar nos seus autos e saber o que é exclusão e as consequências funestas que ela traz. E quantas autoridades intelectuais estão por aí, dentre professores, advogados, médicos, sociólogos, antropólogos, administradores, empresários que falam em interdição e direitos dos doentes mentais, sendo que na prática são os primeiros a excluir sumariamente. Autistas são pérolas que são colocadas no nosso caminho todos os dias. Devemos aproveitar a chance de ter a convivência amigável, a sua interdição pode ser bem-vinda, mas sem exclusão, sem mesquinharia, sempre com o pensamento de um rei: the king is not wrong. Como sujeito de direitos, a pessoa com necessidade especial merece respeito e deve – e pode – participar de uma inclusão social, que se pretende, cada vez mais, ampla, geral e irrestrita. Minha voz pode ser aquela que silenciou. Aceitou todas as obtusões em nome do autismo, das diferenças sociais, das necessidades especiais. Meu filho a u t i s t a está em processo de interdição. O processo também corre silente, sem ser prolixo e bem ético. Muito ético. Minha voz e a minha escrita nunca se calarão frente aos melindres dos palcos holidianos. Frente às autoridades que dizem tudo saber, fazem discursos, dão conselhos, mas na “hora do vamos ver” como diria o povo da minha terra, pegam o óleo de peroba, se lustram e vão falar de sucessão, prejuízos interditórios etc. No entanto, nada sabem da alma humana. Nada sabem do autista e suas reais necessidades. Negam a conhecê-la. E, quando a conhecem, a refutam. Hipócritas!

domingo, 26 de agosto de 2012

Parar a agressão Verbal em crianças com autismo

Algumas crianças com autismo usam agressão verbal. Este artigo irá fornecer estratégias para acabar com este comportamento. A maioria das crianças vai dizer algo médio para outra pessoa em algum momento, e crianças com autismo não são diferentes. Eles também podem tentar ser usar agressão verbal com adultos. Quando isso acontece, é importante desenvolver um plano de intervenção comportamental que pode ser implementado por todos no círculo da criança de cuidados para que as respostas são coerentes. Isso permitirá que a criança a aprender outros métodos de se expressar antes de agressão verbal torna-se um hábito entranhado. Tipo de agressão verbal em crianças com autismo Crianças com autismo usará muito o mesmo tipo de agressão verbal como outras crianças. Alguns dos tipos incluem: Chamar nomes, que pode incluir termos racistas ou sexistas. Usando intimidante palavras ou frases como “Eu vou matar você” ou “Eu vou te machucar”. Usando palavras de baixo calão em direção a pessoa alvo. Confira as causas subjacentes – antecedentes É sempre importante quando trabalhar ou viver com crianças com autismo para descobrir o que leva a, ou dispara, um comportamento. Se a criança estiver usando agressão verbal, verificar para ver o que acontece antes da hostilidade verbal começa. Alguém está ameaçando a criança? A criança é nervoso no ambiente? Existe má modelagem de papel desse tipo de comportamento na escola ou em casa? É a criança sentir-se irritado ou frustrado e não tem qualquer outra forma de expressar sentimentos negativos? É a criança apenas tentando envolver-se na interação e confuso sobre como fazer isso? Estratégias para parar a agressão verbal em uma criança com autismo Verificar e verifique novamente para antecedentes. Diga a criança diretamente que o comportamento não é apropriado e explicar o comportamento adequado que você espera ver demonstrada. Use habilidades sociais treinamento para ajudar a criança a aprender outras formas de expressão verbal. Reorientar a criança a uma sala diferente ou atividade assim que começa o comportamento. Remova a criança a atividade, se a agressão verbal não pára imediatamente. Quando a mesma situação vai ocorrer, ou seja a mesma pessoa alvo, ou o mesmo evento ou o mesmo ambiente, lembrar a criança que a agressão verbal não é permitida e lembrá-lo da consequência se ele faz isso. Fazer isso de uma forma firme mas solidária. Explorar o filho de outros ambientes para determinar se a criança está aprendendo este comportamento de outra pessoa. Agressão verbal nunca é apropriado para qualquer criança em qualquer circunstância. Para crianças com autismo, porém, é vital para parar o comportamento porque ele será ainda mais aliená-los de outras crianças, bem como as configurações e as atividades que eles podem desfrutar. Também, as crianças com autismo podem aprender a mudar comportamentos negativos e ajudando-os adquirir socialmente comportamentos aceitáveis vão aumentar a qualidade de suas vidas, bem como melhorar a vida de seus pais e cuidadores. Autor: Stéphanie Parent

quinta-feira, 26 de julho de 2012

CREDORES SEMPRE


-Emmanuel Pais e mães — dois vínculos de amor - na experiência terrestre que não se podem esquecer sem perpetrar ingratidão. São eles que se esquecem para que os filhos — espíritos reencarnantes no mundo — deles faça berço e ninho, apoio e teto; que se arrancam das gratificações dos sentidos para sacrifício e abnegação, a fim de que os próprios rebentos não sofram carência de proteção notadamente no difícil período de adaptação, a que denominamos “infância”; que formam o lar e sustentam-no por base do aperfeiçoamento e do progresso; que garantem aos filhos a certidão de presença na Terra, doando-lhes o nome e a localização social de que necessitam. * Existem na Terra os que asseguram que a comunhão afetiva entre duas criaturas é incompatível com os serviços de fraternidade e elevação, sem se recordarem de que dispõem de um corpo em favor da própria evolução, à custa de pai e mãe que se puseram a servi-los, através da comunhão afetiva, cujo valor pretendem desconhecer. Que se corrijam as manifestações poligâmicas, em nome do amor, é providência justa; entretanto, condenar a ligação afetiva, entre os seres que sabem honrar os compromissos que assumem e da qual se derivam todas as civilizações existentes no Planeta, seria renegar a fonte da própria vida, que nos empresta a vida na Terra, em nome de Deus. ** Pais e mães, como forem e onde estiverem, são e serão sempre credores respeitáveis nos domínios da existência, principalmente para quantos se lhes erigem na condição de filhos e descendentes. Decerto que os filhos nem sempre se harmonizam com os pais nos ideais que abraçam, como também nem sempre os pais se harmonizam com os filhos, nos propósitos a que se afeiçoam, — de vez que no campo da alma cada Espírito é um mundo por si —; no entanto, é tão significativa a função dos progenitores, nas lides terrenas, que a voz do Mundo Maior, ouvida por Moisés, no lançamento das Leis Divinas incluiu, entre os itens mais importantes para a felicidade do homem na Terra, a legenda inesquecível — “honrarás pai e mãe”. (De “Rumo Certo”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Autismo - Entrando na caverna?

:: Acid :: Ricardo vivia literalmente com a cabeça nas nuvens. Ele tecnicamente não era autista, mas podia ser, quando quisesse. Entrava e saía de seu mundo particular e às vezes mesclava um com o outro sem que ninguém o percebesse. Sua família chamava essas suas escapadas de "viagens". Felizmente nunca chamaram um padre para exorcizá-lo. Ele se lembra que fazia isso desde os 10 anos. Mas nunca usou ou teve curiosidade de usar drogas. Nem precisa, afinal ele podia criar toda a Terra Média de Tolkien na cabeça e passear por ela, sentindo a brisa no rosto, a umidade da floresta, o perfume e a textura das plantas. Interessante que essas sensações não passavam pelos nervos, mas eram criadas diretamente em seu cérebro. Era real a ponto de sentir frio ou calor, mas sem que o corpo reagisse a isso. Achava estranho as pessoas precisarem usar drogas pra "ver coisas novas", quando esta já é uma capacidade inerente ao ser humano. Pra "viajar", tudo o que ele precisa é fazer o corpo vibrar. Pra isso, antigamente movia os braços vigorosamente, e prendia a respiração por longos períodos. Com o tempo, ele aprimorou a técnica, bastando apenas contrair todos os músculos e fazendo o corpo vibrar quase que imperceptivelmente. Ainda assim o dispêndio de energia é grande, e talvez por isso seja tão magro. O interessante disto é que as pessoas que fazem viagem astral conscientemente precisam fazer exercícios pra elevar a vibração do corpo (e, conseqüentemente, do perispírito) para acessar outros planos (mas Ricardo não faz projeção astral consciente). Há um quase "abandono" do corpo ao fazer estas viagens. Isso traz certo embaraço se ele fizer isso em locais públicos, pois o rosto fica meio abobalhado, com olhos esbugalhados e boca pendente... Seus dedos ficam esticados involuntariamente, especialmente o indicador, o médio e o polegar, que são exatamente os 3 mais fortes para absorção/expulsão de energia. Uma das mãos fica involuntariamente em posição de mudrá, mais especificamente o "Ardhapataka mudrá" e o "Chandrakála mudrá". Esses mudrás são gestos de mãos milenares, criados na Índia, e funcionam como captadores e redirecionadores de energia. Obviamente ele não sabia disso. Outra característica dele é que seus chakras são bem desenvolvidos, a ponto de absorver (sem querer) a energia do ambiente. Tanto é que não gosta de multidões. Sua percepção de mundo não era muito normal. Pensava sempre sobre o que estava acontecendo nas dimensões invisíveis e, apesar de ser invisível para ele também, ele as imaginava vividamente, utilizando seus recursos de "emulação" da realidade. É incrível como ele podia criar um sistema caótico sem esforço, afinal, bastava criar, ditar as leis que regeriam a "matéria" e pronto. O sistema se autogerenciava. Obviamente que sua idéia de Deus era exatamente essa: Nós estaríamos na mente de algo/alguém mais poderoso, que criou o Universo, ditou as regras e agora está só "curtindo" a evolução de sua criação. Pesquisando a respeito de projeção, que geralmente é rotulada como o "mundo dos sonhos", vemos que no filme Waking Life percebe-se que o mundo dos sonhos é vivido em múltiplas dimensões. Não há o tempo linear, e não há um ponto x, y, onde a pessoa esteja situada. É comum estar em dois locais ao mesmo tempo, vendo o mesmo acontecimento de ângulos diferentes. Ricardo fala que em seu mundo podia estar dentro de um Fórmula 1, concentrado na pista, mas ao mesmo tempo poderia acompanhar as pedrinhas que rolavam pra fora do asfalto com o passar do carro. Isso poderia ser explicado pela escola do budismo, que diz que o EU (ego) é um ponto no espaço, uma gota d'água separada do oceano, que não passa de uma ilusão desse nosso plano de existência. Como se a mente atrasada, por não compreender o infinito, tivesse de se fechar num casulo para dizer "isto sou eu". Como um morcego que, por não agüentar a luz, teve de se adaptar aos outros sentidos. Ao acessar planos superiores, essa limitação some, e mentes mais preparadas - assim como pássaros com asas mais fortes - podem experimentar vôos mais altos (e para mais longe). Deve ter sido difícil para Ricardo se adaptar às limitações do mundo real. Quase não tinha amigos, pois não podia abrir seus questionamentos para eles (ou o taxariam de louco). Com 15 anos estudava com afinco civilizações antigas, extraterrestres, espiritismo, qualquer coisa que o ajudasse a responder "o que" ele era. Talvez para compensar a solidão, sua mente criou 3 novas personalidades para discutir assuntos ditos "transcendentais". Cada uma com um ponto de vista, e poderia passar horas filosofando com essas vozes, que ouvia em sua mente. Mas ele nunca preferiu essas vozes às pessoas reais, de fato. Tanto é que, quando conseguiu se juntar a um grupo com "cabeça mais aberta", essas vozes foram desaparecendo, até restar uma, que funciona como a "voz da consciência", e o manda entrar nos eixos toda vez que Ricardo pensa em fazer algo errado (por mais bobo que seja). Analisando o caso clinicamente, percebe-se diversas semelhanças com a síndrome de Asperger, uma variante mais leve do Autismo. A pessoa consegue entrar e sair de seu mundo, mas possui dificuldades de relacionamento, de fala, de falta de concentração, etc. Há também casos que estão no limite da normalidade, seja na Síndrome de Asperger, no Borderline ou no DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção), um dos quais talvez seja o caso de Ricardo. Não se sabe se essas síndrome são genéticas, mas um dado interessante é que o irmão de Ricardo (quase 1 década mais novo) praticamente nasceu "viajando". Com menos de 1 ano já movia alucinadamente os braços e ficava com os olhos fixos no vazio. Ele também desenvolveu a técnica de usar um galho de coqueiro para canalizar sua energia enquanto está em seu "mundinho". Seria uma patologia clínica, ou uma característica não usualmente explorada do cérebro? Isso nos remete à velha discussão do mundo das idéias, iniciada com Sócrates em 250 a.C. Segundo Platão, em sua alegoria da caverna, o que vivemos aqui (neste plano) nada mais é do que uma veste grosseira para algo que está situado no mundo das idéias. Para Sócrates, a "idéia cavalo" existe antes mesmo do animal cavalo. Então, quem o concebeu? Não seria então mera coincidência que os primeiros experimentos com o avião e com o rádio tenham acontecido em vários pontos do mundo ao mesmo tempo? A criação se processa, de fato, no campo mental e depois para o físico? Então, e se esse "campo mental" for, na verdade, um físico mais sutil, mais maleável, moldável pelo poder da mente? O registro ficaria lá, para quem pudesse acessá-lo e de alguma forma transportá-lo para sua forma mais densa/material. O pensamento seria o instrumento que molda essa matéria mais sutil, agregando seus "átomos" (ou o que quer que seja) através da energia da mente. Enquanto a mente manter o pensamento, essa forma existirá. É assim que essas idéias - que têm o nome de "formas-pensamento" na terminologia dos que lidam com esoterismo - são criadas. Casas, roupas, armas e até mesmo as formas das pessoas do "lado de lá" são moldadas com a mente. Em setembro de 2001 cientistas suíços publicaram na Revista Nature um estudo onde acreditam ter identificado a área do cérebro onde são desencadeadas as chamadas "experiências fora do corpo". Enquanto eles usavam eletrodos para estimular o cérebro de uma paciente com epilepsia durante um tratamento, a mulher começou a descrever a sensação de ter deixado seu corpo e estar flutuando sobre ele. Segundo os médicos, isso sugere que a experiência esteja relacionada a uma parte específica do cérebro. Justamente a cognição espacial. O que nos define num ponto cartesiano. A noção do EU estou AQUI. Então, ao sonhar rompemos esta barreira, inclusive a do tempo. É muito comum vermos anos passando em segundos, acontecimentos simultâneos, e aquilo, pra quem está sonhando, é bastante natural. A questão aqui é: até que ponto uma pessoa com Autismo é um doente que precisa ser forçado a conviver em nossa realidade? O Autista se tranca em seu mundo, mas não conhecemos seu mundo. O que ele é? Como se parece? São respostas que talvez nunca descubramos. Mas podemos pegar algumas elucidações na alegoria da Caverna, de Platão. Pensem no autista aqui como a pessoa que enxerga a luz, e é forçado (pelas circunstâncias, ou mesmo por remédios) a encarar a "realidade": Sócrates - Imagina ainda que esse homem volte à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol? Glauco - Por certo que sim. Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois se habituar à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros riam às suas custas e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo? Glauco - Sem nenhuma dúvida. Não é à toa que as pessoas autistas são tão sensíveis. Elas se acostumaram a um mundo sutil, sem estímulos grosseiros, mecânicos ou neurológicos, desenvolvendo tão somente a mente a um ponto que, mesmo o pensamento de raiva dirigido a ela pode vir a machucá-la. Não seria o autismo uma espécie de adaptação a um mundo novo, mais rude e menos sutil? Os verdadeiros artistas (pessoas inspiradas) são normalmente sensíveis e meio deslocadas da realidade, embora convivam bem com ela. Com base na reencarnação, pergunto: Seriam os autistas de hoje os grandes artistas de amanhã? Estariam eles descendo pra caverna, ou saindo dela? Importante dizer que, no livro "Deficiente Mental - Porque Fui Um", de Vera Lucia Marinzeck, vemos que nem sempre tem de haver uma causa espiritual para todos os problemas mentais: "Porque é difícil nós, na roda dos renascimentos, sermos totalmente isentos de erros. Pode acontecer até um acidente que danifique o feto (o corpo físico), e o perispírito ser e continuar perfeito. Muitas vezes amigos do reencarnante podem desligá-lo da matéria defeituosa, porque, se ele tiver algo para realizar, não será possível num corpo deficiente. Há então o desencarne e ele fará nova tentativa. Ou então esse espírito aproveita a oportunidade e faz da deficiência um grande aprendizado". Acho essa visão meio cruel com quem está passando por isso (especialmente pra família, que provavelmente encontraria conforto na Lei do karma), mas acho bastante plausível que, numa "linha de produção" de milhões de humanos é natural que haja erros, até porque nem todos os espíritos têm o privilégio de ter uma encarnação totalmente planejada, com concepção assistida no plano espiritual, e tal... e mesmo que tenha, ainda assim pode haver imprevistos. Referência: Autismo: uma Leitura Espiritual; Hermínio C. Miranda; Famous people with autistic traits Gostou? Acid é uma pessoa legal e escreve o Blog (Saindo da Matrix). "Não sou tão careta quanto pareço. Nem tão culto. Não acredite em nada do que eu escrever. Acredite em você mesmo e no seu coração." Autismo - Entrando na caverna? :: Acid :: Ricardo vivia literalmente com a cabeça nas nuvens. Ele tecnicamente não era autista, mas podia ser, quando quisesse. Entrava e saía de seu mundo particular e às vezes mesclava um com o outro sem que ninguém o percebesse. Sua família chamava essas suas escapadas de "viagens". Felizmente nunca chamaram um padre para exorcizá-lo. Ele se lembra que fazia isso desde os 10 anos. Mas nunca usou ou teve curiosidade de usar drogas. Nem precisa, afinal ele podia criar toda a Terra Média de Tolkien na cabeça e passear por ela, sentindo a brisa no rosto, a umidade da floresta, o perfume e a textura das plantas. Interessante que essas sensações não passavam pelos nervos, mas eram criadas diretamente em seu cérebro. Era real a ponto de sentir frio ou calor, mas sem que o corpo reagisse a isso. Achava estranho as pessoas precisarem usar drogas pra "ver coisas novas", quando esta já é uma capacidade inerente ao ser humano. Pra "viajar", tudo o que ele precisa é fazer o corpo vibrar. Pra isso, antigamente movia os braços vigorosamente, e prendia a respiração por longos períodos. Com o tempo, ele aprimorou a técnica, bastando apenas contrair todos os músculos e fazendo o corpo vibrar quase que imperceptivelmente. Ainda assim o dispêndio de energia é grande, e talvez por isso seja tão magro. O interessante disto é que as pessoas que fazem viagem astral conscientemente precisam fazer exercícios pra elevar a vibração do corpo (e, conseqüentemente, do perispírito) para acessar outros planos (mas Ricardo não faz projeção astral consciente). Há um quase "abandono" do corpo ao fazer estas viagens. Isso traz certo embaraço se ele fizer isso em locais públicos, pois o rosto fica meio abobalhado, com olhos esbugalhados e boca pendente... Seus dedos ficam esticados involuntariamente, especialmente o indicador, o médio e o polegar, que são exatamente os 3 mais fortes para absorção/expulsão de energia. Uma das mãos fica involuntariamente em posição de mudrá, mais especificamente o "Ardhapataka mudrá" e o "Chandrakála mudrá". Esses mudrás são gestos de mãos milenares, criados na Índia, e funcionam como captadores e redirecionadores de energia. Obviamente ele não sabia disso. Outra característica dele é que seus chakras são bem desenvolvidos, a ponto de absorver (sem querer) a energia do ambiente. Tanto é que não gosta de multidões. Sua percepção de mundo não era muito normal. Pensava sempre sobre o que estava acontecendo nas dimensões invisíveis e, apesar de ser invisível para ele também, ele as imaginava vividamente, utilizando seus recursos de "emulação" da realidade. É incrível como ele podia criar um sistema caótico sem esforço, afinal, bastava criar, ditar as leis que regeriam a "matéria" e pronto. O sistema se autogerenciava. Obviamente que sua idéia de Deus era exatamente essa: Nós estaríamos na mente de algo/alguém mais poderoso, que criou o Universo, ditou as regras e agora está só "curtindo" a evolução de sua criação. Pesquisando a respeito de projeção, que geralmente é rotulada como o "mundo dos sonhos", vemos que no filme Waking Life percebe-se que o mundo dos sonhos é vivido em múltiplas dimensões. Não há o tempo linear, e não há um ponto x, y, onde a pessoa esteja situada. É comum estar em dois locais ao mesmo tempo, vendo o mesmo acontecimento de ângulos diferentes. Ricardo fala que em seu mundo podia estar dentro de um Fórmula 1, concentrado na pista, mas ao mesmo tempo poderia acompanhar as pedrinhas que rolavam pra fora do asfalto com o passar do carro. Isso poderia ser explicado pela escola do budismo, que diz que o EU (ego) é um ponto no espaço, uma gota d'água separada do oceano, que não passa de uma ilusão desse nosso plano de existência. Como se a mente atrasada, por não compreender o infinito, tivesse de se fechar num casulo para dizer "isto sou eu". Como um morcego que, por não agüentar a luz, teve de se adaptar aos outros sentidos. Ao acessar planos superiores, essa limitação some, e mentes mais preparadas - assim como pássaros com asas mais fortes - podem experimentar vôos mais altos (e para mais longe). Deve ter sido difícil para Ricardo se adaptar às limitações do mundo real. Quase não tinha amigos, pois não podia abrir seus questionamentos para eles (ou o taxariam de louco). Com 15 anos estudava com afinco civilizações antigas, extraterrestres, espiritismo, qualquer coisa que o ajudasse a responder "o que" ele era. Talvez para compensar a solidão, sua mente criou 3 novas personalidades para discutir assuntos ditos "transcendentais". Cada uma com um ponto de vista, e poderia passar horas filosofando com essas vozes, que ouvia em sua mente. Mas ele nunca preferiu essas vozes às pessoas reais, de fato. Tanto é que, quando conseguiu se juntar a um grupo com "cabeça mais aberta", essas vozes foram desaparecendo, até restar uma, que funciona como a "voz da consciência", e o manda entrar nos eixos toda vez que Ricardo pensa em fazer algo errado (por mais bobo que seja). Analisando o caso clinicamente, percebe-se diversas semelhanças com a síndrome de Asperger, uma variante mais leve do Autismo. A pessoa consegue entrar e sair de seu mundo, mas possui dificuldades de relacionamento, de fala, de falta de concentração, etc. Há também casos que estão no limite da normalidade, seja na Síndrome de Asperger, no Borderline ou no DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção), um dos quais talvez seja o caso de Ricardo. Não se sabe se essas síndrome são genéticas, mas um dado interessante é que o irmão de Ricardo (quase 1 década mais novo) praticamente nasceu "viajando". Com menos de 1 ano já movia alucinadamente os braços e ficava com os olhos fixos no vazio. Ele também desenvolveu a técnica de usar um galho de coqueiro para canalizar sua energia enquanto está em seu "mundinho". Seria uma patologia clínica, ou uma característica não usualmente explorada do cérebro? Isso nos remete à velha discussão do mundo das idéias, iniciada com Sócrates em 250 a.C. Segundo Platão, em sua alegoria da caverna, o que vivemos aqui (neste plano) nada mais é do que uma veste grosseira para algo que está situado no mundo das idéias. Para Sócrates, a "idéia cavalo" existe antes mesmo do animal cavalo. Então, quem o concebeu? Não seria então mera coincidência que os primeiros experimentos com o avião e com o rádio tenham acontecido em vários pontos do mundo ao mesmo tempo? A criação se processa, de fato, no campo mental e depois para o físico? Então, e se esse "campo mental" for, na verdade, um físico mais sutil, mais maleável, moldável pelo poder da mente? O registro ficaria lá, para quem pudesse acessá-lo e de alguma forma transportá-lo para sua forma mais densa/material. O pensamento seria o instrumento que molda essa matéria mais sutil, agregando seus "átomos" (ou o que quer que seja) através da energia da mente. Enquanto a mente manter o pensamento, essa forma existirá. É assim que essas idéias - que têm o nome de "formas-pensamento" na terminologia dos que lidam com esoterismo - são criadas. Casas, roupas, armas e até mesmo as formas das pessoas do "lado de lá" são moldadas com a mente. Em setembro de 2001 cientistas suíços publicaram na Revista Nature um estudo onde acreditam ter identificado a área do cérebro onde são desencadeadas as chamadas "experiências fora do corpo". Enquanto eles usavam eletrodos para estimular o cérebro de uma paciente com epilepsia durante um tratamento, a mulher começou a descrever a sensação de ter deixado seu corpo e estar flutuando sobre ele. Segundo os médicos, isso sugere que a experiência esteja relacionada a uma parte específica do cérebro. Justamente a cognição espacial. O que nos define num ponto cartesiano. A noção do EU estou AQUI. Então, ao sonhar rompemos esta barreira, inclusive a do tempo. É muito comum vermos anos passando em segundos, acontecimentos simultâneos, e aquilo, pra quem está sonhando, é bastante natural. A questão aqui é: até que ponto uma pessoa com Autismo é um doente que precisa ser forçado a conviver em nossa realidade? O Autista se tranca em seu mundo, mas não conhecemos seu mundo. O que ele é? Como se parece? São respostas que talvez nunca descubramos. Mas podemos pegar algumas elucidações na alegoria da Caverna, de Platão. Pensem no autista aqui como a pessoa que enxerga a luz, e é forçado (pelas circunstâncias, ou mesmo por remédios) a encarar a "realidade": Sócrates - Imagina ainda que esse homem volte à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol? Glauco - Por certo que sim. Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois se habituar à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros riam às suas custas e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo? Glauco - Sem nenhuma dúvida. Não é à toa que as pessoas autistas são tão sensíveis. Elas se acostumaram a um mundo sutil, sem estímulos grosseiros, mecânicos ou neurológicos, desenvolvendo tão somente a mente a um ponto que, mesmo o pensamento de raiva dirigido a ela pode vir a machucá-la. Não seria o autismo uma espécie de adaptação a um mundo novo, mais rude e menos sutil? Os verdadeiros artistas (pessoas inspiradas) são normalmente sensíveis e meio deslocadas da realidade, embora convivam bem com ela. Com base na reencarnação, pergunto: Seriam os autistas de hoje os grandes artistas de amanhã? Estariam eles descendo pra caverna, ou saindo dela? Importante dizer que, no livro "Deficiente Mental - Porque Fui Um", de Vera Lucia Marinzeck, vemos que nem sempre tem de haver uma causa espiritual para todos os problemas mentais: "Porque é difícil nós, na roda dos renascimentos, sermos totalmente isentos de erros. Pode acontecer até um acidente que danifique o feto (o corpo físico), e o perispírito ser e continuar perfeito. Muitas vezes amigos do reencarnante podem desligá-lo da matéria defeituosa, porque, se ele tiver algo para realizar, não será possível num corpo deficiente. Há então o desencarne e ele fará nova tentativa. Ou então esse espírito aproveita a oportunidade e faz da deficiência um grande aprendizado". Acho essa visão meio cruel com quem está passando por isso (especialmente pra família, que provavelmente encontraria conforto na Lei do karma), mas acho bastante plausível que, numa "linha de produção" de milhões de humanos é natural que haja erros, até porque nem todos os espíritos têm o privilégio de ter uma encarnação totalmente planejada, com concepção assistida no plano espiritual, e tal... e mesmo que tenha, ainda assim pode haver imprevistos. Referência: Autismo: uma Leitura Espiritual; Hermínio C. Miranda; Famous people with autistic traits Gostou? Acid é uma pessoa legal e escreve o Blog (Saindo da Matrix). "Não sou tão careta quanto pareço. Nem tão culto. Não acredite em nada do que eu escrever. Acredite em você mesmo e no seu coração."

De onde vem esse medo que assola meu coração?

:: Maria Isabel Carapinha :: Por vezes, somos tomados por sentimentos que entram em nossa mente se instalam e permanecem vibrando de forma negativa. O medo nos faz divagar na maioria das vezes sobre o que ainda não existe ou por sentimentos de precaução, ou seja, se um dia, tal fato vier a se concretizar, de maneira mental, eu já o havia vivenciado e me preparado. Tais sentimentos negativos, no entanto, interferem no nosso equilíbrio energético e modificam nossa frequência vibracional, fazendo com que situações negativas sejam vivenciadas. Quem um dia já não sentiu medo de perder a pessoa amada, de perder o emprego, de se arriscar em uma nova oportunidade, de viajar de avião, de perder um ente querido ou até mesmo de morrer? Por que conviver com sensações como estas? No fundo de cada um destes medos, existe a falta de entrega e confiança, confiança que sempre o amanhã será melhor que hoje e que a cada dia -se sua mente estiver em pleno equilíbrio- sua vida será colocada em Ordem Divina. Quando compreendemos que os pensamentos e emoções negativas se instalam em nossa mente como um fluxo de energia gerado por nossa mente tendo como base ideias e conceitos errados, eles podem ser compreendidos, identificados e transmutados. A mudança pessoal ocorre quando identificamos o momento em que o bloqueio energético, que está dando origem ao medo, foi gerado e então transmutamos através da utilização da Mesa Radiônica Quântica. Culpar as circunstâncias da vida, os outros, nossos pais, nossa falta de sorte ou, até mesmo o destino, é muito mais fácil do que ser o responsável pela sua vida e destino. A cada segundo, decidimos o nosso futuro, nossos pensamentos e atitudes cristalizam o que viveremos a seguir. Culpar os outros somente lhe fará perder mais tempo na busca de uma vida diferente. Tome uma decisão única e certeira, aborde de maneira clara e objetiva tudo que não quer mais para sua vida, elimine e passe a vibrar por aquilo que quer, o Universo está esperando seu sim, para colocá-lo no caminho da abundância e felicidade. O medo tem uma função importante em nossa vida, ele faz com que haja a preservação dela, ele prepara o nosso corpo para o desconhecido e desaparece rapidamente quando a situação se torna conhecida. Este tipo de medo é o medo real, ou seja, ouvimos um barulho e somos tomados por uma sensação de medo que nos leva a reagir ou a fugir. O medo é uma emoção que aparece do nada em nossa mente, quando percebemos um perigo iminente ou imaginamos que algo de ruim pode acontecer. O cérebro produz adrenalina e, então, o medo se instala. Eis aqui o pulo do gato: com ou sem perigo real, todo o processo cerebral é disparado. Isso significa que mesmo em situações que somente imaginamos o que pode nos ocorrer, todo processo cerebral é disparado e passamos de fato a sentir como se tudo fosse real. O medo nos impede de realizarmos o que desejamos, temos medo da solidão, mas não queremos nos lançar ao amor por medo de sofrer, não suportamos o nosso emprego atual, mas temos medo de mudança, queremos muito viajar, mas temos medo de avião. Por que não transformar esse medo em realização de desejos? Neste exato momento, podemos aqui incluir todos os tipos de medos: de elevador, de locais fechados, de altura, de bichos, de dirigir. Existem casos intensos de medo que ele se transforma em mal-estar e se torna sentimento de sofrimento. Quando a situação que dispara o medo é somente imaginária, é gerada a seguir uma ansiedade excessiva que vem acompanhada de sintomas físicos como tensão muscular, tremores musculares involuntários, inquietação, falta de ar, taquicardia e suor excessivo, boca seca, ondas de calor e de frio, dificuldade de engolir e sensação de desmaio ou desrealização. O mecanismo que dispara o medo é inconsciente e sempre começa com um estímulo que provoca susto ou pavor. O segredo da cura está na descoberta deste estímulo que se repete e ficou com uma energia bloqueada em sua memória e, cada vez que algo similar acontece, o estímulo é disparado e, então, caímos na tão conhecida doença do momento que é a síndrome do pânico. A identificação deste momento exato, em que este estímulo é disparado, é feita na Mesa Radiônica e, através da eliminação de tal energia estagnada, vamos fazendo com que o medo deixe de fazer parte de nossas vidas e a sensação de confiança e paz voltem a ser reestabelecidas. Por incrível que possa parecer, os dados estatísticos apontam que 40% das pessoas têm medo de avião sendo que a sua chance de ter um acidente aéreo está em uma para cada um milhão e trezentas mil pessoas. Este medo pode estar associado a excesso de controle, ou seja, como confiar sua vida a um desconhecido e não saber a cada segundo o que está acontecendo. Pode estar ainda associada a medo de altura ou ainda a medo de locais fechados. A cura deste medo está também na identificação do momento em que este estímulo foi disparado. Há algum tempo, atendi um moço que se dizia depressivo, fazia uso de remédios para depressão, mas o alívio que sentia era pequeno. Contou um pouco sobre sua vida pessoal: sentia-se realizado na parte afetiva e profissional, por sinal era uma pessoa de referência na área em que trabalhava. Porém, sentia uma angústia, uma tristeza e um medo que não conseguia controlar e decidiu, então, partir para uma identificação energética da situação, visto que com tudo que estava fazendo ainda permanecia com os sintomas. Passou a descrever de maneira clara os sintomas que tinha quando o medo era disparado em sua mente: essa sensação vem do nada e, independe de onde eu esteja, sinto que a minha pressão sobe e que meu coração dispara; dentro de meu peito se instala uma tremedeira e tenho a sensação que vou morrer, esta é uma situação que sinto. Outra que descrevo é uma enorme sensação de tristeza que me assola onde tenho vontade de me isolar até que passe, por vergonha de não saber o porquê sinto isso. Iniciamos o tratamento com a Mesa Radiônica equilibrando em princípio todas as suas frequências vibracionais e a seguir partimos para a identificação dos bloqueios energéticos existentes em sua mente. Identificamos dois momentos extremamente marcantes que foram o suicídio de sua mãe, quando ele tinha quatro anos de idade, onde ele chegando com o pai em casa presenciou a cena e o outro aos dezessete anos quando seu pai enfartou, na empresa ao seu lado. O pai acabou se restabelecendo meses depois sem sequelas. Fizemos o desbloqueio energético de tais momentos. Passados alguns meses e com relatos extremamente positivos, voltamos a conversar sobre os momentos identificados e percebemos que os estímulos cerebrais eram sempre disparados por situações em que ele era pego de surpresa e não conseguia reagir, como no caso da morte da mãe. E o segundo por situações de pressão em que a sua não-reação poderia levar a consequências mais sérias, como no caso do pai; se ele não tivesse agido com presença e rapidez, talvez a vida do pai não pudesse ser salva. Como a energia que dispara o estímulo cerebral fora liberada, mesmo havendo situações similares as que descrevemos, o estímulo não mais era disparado e ele passou, então, a viver uma vida normal isenta de medo e depressão.

"AUTISTAS DO ÁLEM"

PSICOGRAFADO POR NELSON MORAES PELO ESPÍRITO EDUARDO ÍNDICE Nota do Médium....................................9 Esclarecimentos...................................11 Os socorristas......................................15 Elza.......................................................29 A menina Eliza......................................42 Passado e Presente...............................56 O socorro de Raul................................70 A resistência de Raul............................75 Permissão para voltar...........................88 Resgatando dívidas...............................99 "Autistas do Além" NOTA DO MÉDIUM “Este é um fato verídico ocorrido após a desencarnação de um jovem recolhido em um acidente na capital de São Paulo. Entretanto os nomes e certas circunstâncias foram alterados, em vista de se resguardar as pessoas envolvidas que ainda permanecem encarnadas em nossos meios. Estes acontecimentos foram ditados ao médium pelo jovem Eduardo Ruiz Dellalio, também desencarnado por acidente no dia 23 de junho de 1980. Eduardo, depois de retornar à Pátria espiritual, enviou várias mensagens através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier e, numa delas, ressaltou os problemas que envolviam muitos jovens recém-desencarnados. Diz ele na referida mensagem: “... Muita gente chora ainda, outros companheiros se revelam insubmissos e revoltados; outros parecem tocados por obsessões difíceis de passar. Tamanha é a saudade com que se acomodam no fundo do imenso lago das lágrimas, que não encontram condições para escrever construtivamente. Por isso, muitos irmãos estão ainda no tanque do tempo, afogando as mágoas que os fazem doentes e por enquanto incapazes do equilíbrio para reconfortar alguém... ” Plenamente integrado à vida espiritual, Eduardo passou a dedicar seus préstimos a esses jovens. Não como um benfeitor, diz ele, mas como um amigo que já superou os primeiros obstáculos de uma nova experiência. O título, (Autistas do Além) foi sugerido pelos acontecimentos aqui registrados, em que o personagem em determinado momento assume um comportamento idêntico ao dos Autistas encarnados. Certamente este título atrairá estudiosos do assunto, porém devemos esclarecer que a obra em si não concentra em torno do problema propriamente dito, mas enfoca os sentimentos e as emoções que podem levar um espírito à condição de Autista." ESCLARECIMENTOS “Nós, os jovens domiciliados no além, muitas vezes em nossas comunicações com os nossos entes queridos deixamos transparecer que a vida aqui segue nas mesmas condições de quando encarnados. É justo, porém, compreendermos que os valores da Terra não se confundem com os do espírito eterno e que as circunstâncias que nos envolvem agora; obrigam-nos as transformações profundas no que se refere às novas condições de vida, onde somos o que pensamos e deixamos transparecer visivelmente o que sentimos. O equilíbrio das nossas emoções torna-se fator imprescindível a ser alcançado. Temos visto muitos companheiros enfrentarem graves dificuldades oriundas do campo emocional descontrolado. Muitos desses nossos irmãos, tomados pela saudade angustiante agravada, pela insegurança de que são acometidos, projetam-se às zonas de sofrimento e, quando não, retornam ao reduto doméstico e tentam desesperadamente retomar a vida que lhes escapou. Portam-se à semelhança dos Autistas da terra, recusam o mundo em que estão vivendo concentrando-se num mundo que já não conseguem alcançar. Ao sentirem-se frustrados nesse anseio desesperado, imergem dentro de si mesmo, isolando-se de tudo e de todos. São os Autistas do Além. Dedicados benfeitores da Estância de Amor, onde estou domiciliado, empregam grandes esforços na recuperação desses irmãos. Somos uma imensa colônia de trabalho vinculada às instituições terrenas que se dedicam às tarefas de assistência aos espíritos desencarnados, promovendo orientação e socorro através dos recursos da mediunidade. A calma que tenho demonstrado em minhas atitudes, desde que cheguei a esta colônia, é o único atributo que me permitiu integrar uma equipe de espíritos que atua nessa área. Somos três companheiros que prestam auxílio no tratamento de casos que geralmente envolvem jovens recém-desencarnados e quase sempre por acidente, o que facilita muitas vezes nossa tarefa, pois nos identificamos com eles. Devo esclarecer que somos uma equipe entre centenas de equipes existentes em nossa colônia e que o fenômeno que denominamos de Autistas do Além se verifica em todas as faixas etárias mantidas pelos espíritos desencarnados; portanto, encontramos envolvidos nesse processo espíritos que desencarnam com idades que variam da infância à idade avançada. À semelhança de um espectador de fatos, vou os acontecimentos que envolvem o tratamento de um jovem; e que, no desenrolar das ocorrências, trarão à baila preciosos esclarecimentos que por certo irão colaborar não só com aqueles que abraçaram a tarefa de auxílio no campo do espírito humano, mas principalmente aos pais que sofreram a separação provisória no decorrer da vida passageira, devolvendo seus filhos queridos aos planos da vida eterna. " OS SOCORRISTAS "Rompia a Aurora Clara de Deus, quando fomos chamados pelo coordenador das tarefas socorristas. Atravessamos os jardins que circundam o edifício central de nossa Estância. As flores, naquela manhã, irradiavam do colorido pujante vibrações que se traduziam em nossos espíritos como hinos de esperança, incentivando-nos ao trabalho edificante. Venâncio, sorridente como sempre, nos recebeu à porta do seu gabinete, abraçando-nos carinhosamente. _ Então, meus jovens! Estão dispostos a uma nova empreitada de amor? _ Onde conseguiremos tal amor? _ respondeu Afrânio, o orientador da nossa equipe, demonstrando o seu constante bom humor. Venâncio sorriu e afirmou: (1) Nota do médium – Termo usado por Eduardo em uma das suas mensagens através de Chico Xavier. _ O amor é uma força que todos possuímos! Apenas não temos aprendido a aplicá-la ao encontro de suas finalidades superiores. Encontramo-la desequilibrada nas paixões, perturbada no ciúme, transfigurada no ódio, controvertida no egoísmo e, finalmente, sublimada nos anjos. Somente quando aprendermos a direcioná-la, equilibrada em grandes ou pequenas parcelas na direção do bem geral, é que começará a agir em nosso próprio benefício. O Evangelho, no seu contexto, apresentanos o amor como à solução final para todos os problemas da humanidade. É o amor emanante de Deus que sustenta todos os reinos de vida, desde o micro até o macrocosmo; quando todos nos ajustarmos a esse amor, contribuindo com o equilíbrio geral da criação, nosso coração estará pulsando em sintonia com o coração do universo. Afrânio olhou para nós, demonstrando admiração pelas palavras de Venâncio. Este, registrando a nossa emoção, continuou: _ Enquanto ensaiamos esse amor, apliquemos os recursos de que dispomos no momento da direção daqueles que recorrem aos benefícios das nossas tarefas. Temos em mãos um relatório de informações sobre um jovem, vítima de um acidente que promoveu seu retorno às nossas esferas. Apesar de toda assistência recebida m nosso plano, envolveu-se em profunda depressão, agravada pelo sentimento de saudades de sua mãe que acabou arrastando-o ao ambiente doméstico, onde se encontra há mais de um ano, sob o domínio da obsessão. Parentes há muito desencarnados tentaram, por todos os meios possíveis, traze-lo à realidade à qual rejeita, fechando-se no mundo que imprevidentemente criou para si. _Quando devemos iniciar o nosso trabalho? – perguntou Afrânio. _ Imediatamente. Já comuniquei ao encarregado do seu pavilhão, que manterá contato permanente com vocês para atender aos recursos que solicitarem no decorrer do tratamento. No lar em questão, contarão com a colaboração de Artur, um espírito amigo da família. Após entregar-nos o relatório e fazer as devidas recomendações, Venâncio proferiu uma prece, solicitando o amparo das esferas superiores durante o tempo que permaneceríamos na crosta. De posse das informações contidas no relatório, nos dirigimos ao local. O lugar, já nos era conhecido tanto eu quanto Afrânio e Décio havíamos residido em São Paulo. A casa demonstrava pertencer a uma família de classe média, paredes externas revestidas, pequeno jardim e uma garagem gradeada até o alto da laje. Entramos... Na sala, uma menina de uns oito anos, deitada no tapete, coloria algumas figuras desenhadas no papel. _ Esta é Eliza – falou Artur, saindo de um dos aposentos -, a irmãzinha de Raul. Sejam bemvindos! Esperava ansioso, à chegada de vocês! _ Eu sou Afrânio, estes são Décio e Eduardo. Depois de trocarmos algumas palavras próprias de momento como este Artur, nos convidou: _ Venham, vou mostrar-lhes a casa. Acompanhados pelo nosso anfitrião, fizemos um reconhecimento em todos os cômodos. Na cozinha, encontramos Júlia, que segundo Artur; era uma dedicada senhora que servia à família há muitos anos. Quando nos aproximamos, pareceu registrar nossa presença. O casal estava ausente, Renato, pai de Raul, estava trabalhando, Elizete, a mãe, havia ido ao cemitério como fazia todas as semanas. Por último, nos conduziu ao quarto que pertencera a Raul. As paredes estavam forradas de pôsteres próprios da juventude. As roupas, os sapatos e tênis estavam dispostos pelo quarto como se ainda fosse habitado pelo jovem, o aparelho de som, as fitas denunciavam seu gosto pela música moderna. Artur, demonstrando tristeza, falou: _ Elizete passa horas neste ambiente envolvida em recordações que lhe afetam profundamente a saúde. Esse comportamento favorece e acentua a sua ligação com o espírito de Raul, que se compraz nessa situação. Sei dos compromissos assumidos por Raul antes de reencarnar nesta última ramagem pela Terra. O tempo em que ele se demora enfermo ameaça-lhe com sérios comprometimentos para o futuro. Foi por esse motivo que recorri a Venâncio. Solicitando ajuda à Estância de Amor. Notando a preocupação de Artur, coloquei meu braço sobre seus ombros e informei-lhe: _ Não se preocupe! Temos em nosso favor, além do apoio total da nossa colônia, os préstimos abalizados de Afrânio que, apesar da condição de jovem com que se apresenta, é um espírito de muitas experiências, conhecedor profundo das emoções humanas, e tem nos surpreendido com resultados dos mais expressivos, no campo, da psiquiatria, o que justifica a total confiança que Venâncio deposita em seus préstimos. Basta que nos empreste sua colaboração para que alcancemos um final feliz sob o amparo de Jesus. Afrânio meneou a cabeça, retrucando: _ Não leve em conta a bondade com que Eduardo faz referências a mim, vamos nos acomodar, pois você tem muitas informações que devemos ouvir. Conte-nos sobre o relacionamento de Raul com sua mãe. _Desde o nascimento do rapaz, Elizete demonstrou por ele um zelo excessivo. Tratava-o como se fosse um bebê frágil, resguardava-o das repreensões do pai, encobrindo suas faltas. Ele, por sua vez, se submetia à mãe num regime de dependência que perdurou até os dezenove anos, quando aconteceu o acidente. Esse relacionamento gerou em Raul uma timidez que o impedia de realizar grandes investidas no mundo lá fora, passava a maior parte do seu tempo confinado no quarto estudando ou ouvindo música. Uns sete meses antes do acontecido; conheceu uma jovem por quem se apaixonou. Quase todos os dias, ia ao seu encontro. Pensou muitas vezes em falar a respeito com a mãe, mas temia uma represália por parte dela, então ocultou seu romance levando consigo o segredo. _ E Renato? – perguntou Afrânio. _Renato apegou-se mais à menina. Embora amasse Raul, o relacionamento entre os dois era bastante difícil. _ O processo obsessivo ocorreu após quanto tempo de desencarne? – perguntei. _ Logo depois do acidente, Raul foi recolhido pelos braços do bisavô paterno e conduzido a um hospital próximo a crosta. Ali recebeu tratamento adequado até quando recobrou a consciência. Informado pelo bisavô da nova situação, sofreu algumas crises que foram superadas com muito esforço dos benfeitores da instituição benemérita que o acolheu. Segundo me informou Elpídio, o bisavô, tudo marchava para a normalidade. Raul, embora muito abatido em suas forças, parecia aceitar bem a nova condição em que se encontrava, até que começou a registrar o desespero de Elizete, cujos gritos angustiados chegavam até ele como um bombardeio nas suas forças psíquicas, abalando profundamente sua organização espiritual. Então, um dia, projetou-se alucinado ao encontro dos apelos da mãe, vindo instalar-se junto dela onde permanece até hoje. Isso ocorreu quatro meses após o desenlace, período que Elizete passou totalmente fora de si, acometida de crises constantes de desespero, vindo acalmar-se aparentemente após Raul ligar-se a ela. _ Muito bem, Artur – disse Afrânio -, tais informes nos são de extremada valia, aguardemos a chegada de nossa irmã, a fim de colhermos as impressões do caso. Esperamos corresponder às suas expectativas no que se refere ao bem-estar dos seus tutelados. Eram pouco mais de onze horas quando Elizete retornou ao lar. Estávamos diante de uma jovem senhora que, apesar do semblante perturbado, demonstrava traços de uma beleza singular. Raul agarrava-se ao seu perispírito à semelhança de uma sombra vinculada aos seus movimentos. Sua mente demonstrava intensa atividade, irradiando sobre o córtex cerebral da mãe, estabelecendo uma estranha simbiose. Décio tentou faze-se sentir por ele, mas, não conseguiu o que caracterizou o estado profundo de obsessão em que se projetou. As palavras nada significavam, nem interferiam no seu comportamento. Aproveitando um momento em que Elizete se acomodara no sofá para descansar da caminhada ao cemitério, Afrânio aproximou-se, sondando-lhe o íntimo. _ Raulzinho, meu filho, você não pode deixar-me, eu preciso de você, Deus nos traiu, jamais vou aceitar nossa separação, Deus não foi justo. _ Eu estou aqui, mamãe – respondeu Raul -, ninguém vai nos separar, ninguém, vou ficar com você para sempre... Após ouvir esse diálogo mental, Afrânio voltou-se para nós, concluindo: _ Estamos diante de um caso bastante delicado. No campo da fé dispomos de quase nenhum recurso, visto que nossa irmã não demonstra nenhuma tendência religiosa. Você, Artur, já tentou aproxima-la de alguém que pudesse ajudar com os recursos da Doutrina Espírita? – perguntou Afrânio. _ Sim, mas foi em vão, ela rejeitou os préstimos de uma senhora amiga da família que tentou conduzila a um, núcleo de trabalhadores próximo daqui. _ Precisamos realizar uma incursão ao pretérito do nosso irmão – disse Afrânio -, a fim de amealharmos recursos que possam auxiliar como atrativo para resgatá-lo do mundo construído nas vibrações doentias de sua mãe. Vou retornar à Estância de Amor. Enquanto isso, eu pediria a você, Artur, conduzir Décio e Eduardo até a residência da jovem que Raul dedicou sua atenção enquanto encarnado, há fim de colherem informações que nos possam ser úteis. Conduzidos por Artur, chegamos a uma residência de características humildes, porém bastante ampla, era u casarão antigo. _ Aqui mora Elza, uma menina de dezoito anos, filha mais velha do casal, trabalha não muito longe daqui, chega sempre por volta das dezoito horas e trinta minutos. Raul quase todos os dias a apanhava no trabalho, acompanhando-a até o portão da casa onde ficavam horas conversando. Ele tinha por ela extremado carinho. Entramos na casa... Fomos recebidos por irmã Clara, um espírito dedicado àquela família, que demonstrou conhecer Artur. _ Como vai, meu querido irmão? O que o trouxe desta vez a nossa casa? _ Trago comigo dois companheiros que vão colaborar no tratamento do Raulzinho. _ Pobre menino, vejo que não consegue libertar-se dos laços com que sua mãe o envolve. Ponham-se à vontade e digam-me como posso ajuda-loa. _ Irmã Clara – disse Artur -, precisamos de algumas informações sobre Elza. Estes são: Décio e Eduardo, eles vão fazer-lhe algumas perguntas. _ Pois não – atendeu solícita a senhora. _ Precisamos saber como Elza reagiu quando se inteirou do acidente – perguntei. _ Sofreu muito, pobrezinha, ficou abatida durante meses, mas com o auxílio de todos tem conseguido superar, embora a tenha. Surpreendido em alguns momentos relembrando seus dias felizes com ele. _ Ela tem alguma fé religiosa? _ Ela andou lendo alguns livros espíritas e, algumas vezes, tem ido assistir palestras na Federação, principalmente depois que Raul retornou ao nosso plano. _ Muito obrigado, irmã Clara – agradeci. _ Foram de muita valia tais informações. Se nos permitir, retornaremos logo mais à noite acompanhados de Afrânio, o nosso orientador. _ Serão bem-vindos! Despedimos-nos e retornamos para a residência, que desde cedo, se tornara nosso ambiente de trabalho. Renato, um senhor bastante simpático, retornou ao lar por volta das dezenove horas. Entrou, beijou a fronte da esposa, abriu os braços a Eliza que correndo atirou-se em seu colo, envolvendo-o carinhosamente com seus beijos de criança. Dirigiram-se para a cozinha onde Júlia terminava os preparativos para o jantar. Sentaramse à mesa depois da higiene habitual. Nós nos colocamos na posição de espectadores, acompanhando o colóquio familiar. _ Elizete, querida – falou Renato demonstrando sua preocupação com a saúde dela -, você precisa parar de tomar os calmantes. _ De jeito nenhum, você sabe que eu não posso ficar sem eles, mesmo tomando-os tenho dificuldades para dormir – respondeu um tanto contrariada. _ Você precisa se distrair, visitar as amigas, seus pais. Por que não pega Eliza e vai dar um passeio até a casa de dona Florinda que sempre se mostrou muito amiga? _ Pra que? Para ficar ouvindo suas “baboseiras” tentando me convencer do espiritismo? _ Este seu comportamento não vai mudar em nada o que já aconteceu, e nem tão pouco trará Raul de volta. Você precisa dedicar maior atenção a Eliza, principalmente agora que começou a estudar; seu carinho torna-se imprescindível, neste momento em que ela começa a descortinar um mundo novo no vaivém da escola. Elizete olhou demoradamente para a menina, seus olhos umedeceram, e por alguns momentos percebemos afrouxarem-se os laços que a uniam Raul. Este imediatamente reagiu, imprimindo maior influência sobre ela que logo se transfigurou. _ Não admito que fale assim comigo, nunca faltei com minhas obrigações com você e tampouco com ela. Dizendo isso, levantou-se e foi para o quarto que pertencera a Raul e ali se entregou ao pranto durante horas. Enquanto aguardávamos o retorno de Afrânio, íamos-nos inteirando do clima que predominava naquele lar. Percebia-se claramente a tristeza de Renato, que não conseguia manter um diálogo com a esposa. Renato levantou-se tomando Elisa nos braços e foi para a sala. _ Papai, por que a mamãe fica sempre brava com você? _ A mamãe está doente, precisamos ter paciência com ela. _ Liga a televisão, papai. Renato ligou o aparelho, controlando o volume do som mínimo e começou a folhear um jornal. Décio aproveitou aquele momento para sondar-lhe o íntimo, visivelmente amargurado. Percebeu que naquele coração ainda palpitava uma esperança. Apesar de tudo, acreditava que um dia tudo voltaria à normalidade. _ É, Eduardo – disse Décio -, graças a Deus dispomos de alguns recursos positivos, tanto com a Elizete que demonstrou amar Elisa, quanto com Renato que ainda não se entregou. Isso poderá contribuir bastante com os nossos esforços. Afrânio chegou, era quase meia-noite. Artur acompanhou Eliza que se dirigiu aos seus aposentos, tomada pelo sono, voltando a reunir-se conosco. Renato retirou Elizete do quarto que pertencera a Raul, conduzindo-a para o dormitório do casal onde se recolheram. Júlia retirou-se para o quarto fora da casa onde dormia durante os dias da semana, deixando a residência apenas aos sábados, retornando às segundas-feiras. Acomodamo-nos na sala, ouvindo Afrânio que nos prestou esclarecimentos relativos à situação em que se encontrava o nosso enfermo. _ Raul é um dos milhares de vítimas do amor possessivo que gera um estado de dependência e que leva a um embotamento das forças positivas do espírito, tornando-o passivo, a ponto de deixar-se conduzir ao invés de se conduzir; renuncia á vontade própria, submetendo-se a uma vontade que o domina, a qual assimila por afinidade e na qual se compraz. Dificilmente conseguiremos arrebatá-lo da situação em que se encontra; se não dispusermos de elementos bastante fortes que possam intervir no campo emotivo, visto que pelos caminhos da razão jamais o alcançaremos. Portanto, vamos concentrar nossos primeiros esforços na jovem, cujos laços de amor ainda se mantêm vivos. Décio e Artur deverão permanecer aqui, enquanto você me conduz à residência da jovem. Saímos... Enquanto nos dirigíamos ao encontro de Elza, informei Afrânio de tudo o que havíamos observado, narrando em detalhes ás informações que obtivemos a respeito do relacionamento do casal e das reações de Elza ante o acidente de Raul, senti que tais informações deixaram o acidente de Raul. Senti que tais informações deixaram Afrânio um tanto otimista. Chegamos ao lar de Elza... Apresentei Afrânio à irmã Clara que nos recebeu afetuosamente. Informada das intenções de Afrânio, conduziu-nos ao quarto da jovem. Ela dormia junto ao corpo, estendida em uma cama de casal. Afrânio colocou-se diante do leito, fechou os olhos com a cabeça voltada para o alto, permanecendo nessa posição por alguns momentos. Eu o observava, não podia imaginar o que pretendia. Estava absorvido pela curiosidade quando ele começou a transfigurar-se, irradiando uma luz que envolveu todo o ambiente, transmitindo uma suave sensação de paz e segurança. Elza começou a agitar-se e, aos poucos, foi se desdobrando na direção dele. _ Perdoe-me, querida irmã – falou Afrânio-, por interferir na sua liberdade, perturbando seu justo descanso. Venho solicitar em nome de Jesus seus préstimos para arrebatar do sofrimento alguém que você ama muito. Trata-se de Raul. Elza sentou-se na beira da cama e começou a chorar copiosamente. Afrânio, nesse momento, vibrou sobre a sua cabeça, emitindo raios azulados que vertiam de suas mãos penetrando o cérebro da jovem. Passados alguns instantes, e a levantou-se completamente transfigurada numa mulher aparentando uns trinta anos, envolvida em roupas antigas, afigurando-nos uma fina dama, dando-nos a impressão de um passado distante retornando ao presente. Voltando-se para Afrânio, disse-lhe: _ É muito,o que me pede, tenho desperdiçado muitos anos da minha existência disputando o amor desse fraco com aquela megera. _ Procure se lembrar. Antes de reencarnar prometeu ajuda-lo, talvez este seja o momento oportuno de começar. Irmã querida... Deus ama seus filhos e os quer unidos pelos laços do amor legítimo. Muitas vezes os caminhos para a união definitivamente estão contidos nos processos das separações provisórias confie um tanto mais na misericórdia divina e ajude-nos no presente para que alcance a felicidade no futuro. Diante das sábias e afetuosas palavras de Afrânio, a dama começou a chorar, transfigurando-se novamente na jovem Elza que, ainda em prantos, se prontificou ajudar. Irmã Clara, envolvendo-a carinhosamente, conduziu-a para o corpo físico. Despedimo-nos retornando à residência de Raul. Enquanto retornávamos, pedi explicações a Afrânio sobre a transfiguração de Elza e como fora possível tal fenômeno. Atendendo a minha curiosidade de aprendiz, esclareceu-me atenciosamente. _ Fui obrigado a estimular as lembranças de Elza, a fim de aquilatar suas ligações com Raul. No momento em que tais lembranças afloraram e foram se tornando nítidas em sua mente, por força destas, seu envoltório fluídico foi se ajustando às recordações que predominaram naquele momento. Por alguns instantes a personalidade de Elza foi esquecida, o que facilitou a transfiguração que presenciamos. Na residência de Elizete, todos dormiam. Quando chegamos, fomos ao quarto do casal onde Décio mantinha vigilância, observando o comportamento dos enfermos. _ Alguma alteração?- perguntou Afrânio. _ Nenhuma importante, apenas por duas vezes Elizete ameaçou sair do corpo, mas desistiu. _ Continue atento. Caminhamos aos aposentos de Eliza. Seu corpinho descansava na cama, mas seu espírito brincava com Artur que demonstrava extremado carinho por ela. Artur fazia-a rir descontraída quando saímos. Alcançando a rua nos dirigimos a uma praça próxima dali. Sentamo-nos sob uma enorme paineira, cujos galhos se estendiam para o alto como tentando agarrar as estrelas que naquela noite se mostravam exuberantes. A lua escondia-se no horizonte, mas seus raios prateados ainda tinham forças para atravessar a folhagem da paineira, iluminando as gotas de orvalho que umedeciam a grama. Lembrei-me de minha mãe cujos olhos, nos momentos das maiores alegrias, brilhavam como as gotas de orvalho banhadas pelo luar. Senti meu coração pulsando com o coração do universo. Lembrei das palavras de Venâncio quando se referiu ao amor. Como seria bom se todos, tivéssemos essa força sob controle, quantos dramas se evitariam neste planeta maravilhosos. Admirava a sabedoria de Venâncio. Afrânio, parecendo registrar meus pensamentos, asseverou: _ Venâncio é um espírito que tenho aprendido a venerar! Seu amor é tão grande quanto a sua sabedoria. Seus préstimos na Estância de Amor representam milhares de espíritos resgatados do sofrimento. Quase sempre vítimas de um amor desequilibrado, o que para ele se constitui numa especialidade. Venho acompanhando-o há muito tempo, amealhando valiosos recursos em termos de conhecimentos, que para mim, um espírito apaixonado pela ciência que estuda a mente e seus problemas, representa um grande acréscimo. Pretendo no futuro retornar as experiências da matéria para dar continuidade ao meu trabalho no campo da Psiquiatria, no qual venho militando a muito, quase sempre experimentando fracassos, principalmente no que se refere à fé, aliás, a prova mais difícil para aqueles que ingressam no mundo das ciências. Espero que, com experiências que tenho adquirido nestas investidas de trabalho junto à crosta, consiga acumular subsídios suficientes para sustentar-me em minha próxima incursão na matéria. Em minha ultima jornada terrestre, logo após conquistar o titulo acadêmico, retornei para cá atendendo uma programação ulteriormente preparada, da qual este nosso trabalho faz parte. À medida que Afrânio falava, sentia por ele uma sensação mista de afeição e respeito. Parecia-me que guardava no peito um mundo de recordações, como alguém que já vivera muitas encarnações. Estava envolvido nesses pensamentos quando me pegou pelo braço: _ Vamos, já amanhece, hoje você deve dedicar algum tempo junto a Elza; precisamos que esteja recolhida cedo ao leito, pois pretendo conduzi-la a presença de Raul esta noite. Parti rumo à residência da jovem. Eram pouco mais de seis horas da manhã, irmã Clara recebeu-me sorridente. Quando Elza saiu, acompanhei-a em direção ao local de trabalho. Era um amplo escritório, fazia parte da administração de uma fabrica. Ela trabalhava de datilografa juntamente com uma colega que tinha mais ou menos a idade dela. Conversavam muito, em determinado momento interessei-me pela conversa e aproximeime para ouvir. _ Esta noite tive um sonho esquisito – falou para a colega. _ Conta, eu adoro ouvir sobre sonhos. _ Eu não sei explicar, foi tão estranho! Eu conversava com um homem sobre o Raul. Chorava muito, de repente, me vi num outro lugar, vestida com umas roupas estranhas. Uma mulher segurava Raul, eu lutava para tirá-lo dos seus braços. Depois acordei, mas não estava acordada, não sei se você entende. Então vi aquele homem de novo, é como se eu estivesse sonhando dentro do sonho, foi uma coisa realmente estranha. _ Você não sonhava sempre com a mãe do Raul tirando-o de você? _ Só que desta vez não era ela, mas sim uma mulher estranha, nós estávamos vestidas com roupas antigas. _ Não será trauma pelo medo que você Raul tinham dela? _ Talvez, mas agora que ele já morreu não se justifica. _ Sonho que a agente não consegue compreender é melhor esquecer - arrematou a colega. _ Você tem razão. Permaneci ali com ela até cumprir o horário da jornada de trabalho daquele dia. No final de tarde tive que intervir provocando-lhe sonolência, pois a colega insistia para que fossem juntas; visitar uma amiga, o que poderia atrapalhar nossos planos. Elza desculpou-se e nós retornamos à sua residência, onde aguardei junto dela a chegada de Afrânio. As horas avançavam. Já passava da meia-noite. Quando Afrânio chegou, eu estava na sala com a irmã Clara que imediatamente nos conduziu ao quarto de Elza. A jovem dormia profundamente. Tocada pelas vibrações de Afrânio, despertou vagarosamente, desdobrando-se em nossa direção. Parecia lembrar-se do compromisso assumido na noite anterior, pois assimilou as orientações naturalmente. Juntos, alcançamos à residência de Raul. Artur nos aguardava ansioso. Afrânio deixou-a sob os seus cuidados, enquanto nos dirigimos ao quarto do casal. Décio mantinha-se vigilante! Nos, aproximamos. Renato e Elizete dormiam juntos aos seus respectivos corpos sob a influência dele, que os havia magnetizado. O ambiente estava preparado. Obedecendo à solicitação de Afrânio fui buscar Elza que, ao entrar no quarto, parou estanque temendo a presença de Elizete. Afrânio acalmou-a conduzindo-a até Raul. Elza debruçou-se à beira da cama sussurrando-lhe algumas palavras, enquanto acariciava seus cabelos. _ Raul, sou eu, estou com muitas saudades. Você esqueceu de mim? Ouça-me, preciso muito de você. Não me procurou mais, então eu vim te ver! Sabe que te amo muito, quero que venha comigo, vamos? À medida que Elza falava, Raul estremecia parecendo ouvir seus apelos. Os laços fluídicos afrouxaram-se, Elizete agitou-se ameaçando acordar. Fizemos uma pausa de alguns instantes e depois Elza voltou a interpelá-lo. _ Vamos, Raul, venha comigo, eu quero você ao meu lado. Elizete novamente agitou-se, tentando se libertar do corpo físico. Então Afrânio suspendeu os trabalhos daquela noite, reconduzi Elza ao lar, atendendo à recomendação dele. Mais tarde, nos reunimos novamente na residência de Raul. Eu estava ansioso por ouvir as impressões de Afrânio sobre aquele primeiro encontro. Não foi preciso perguntar-lhe. Acomodados na sala, ele começou a falar: _ Aguardemos os acontecimentos durante o dia de amanhã, a fim de aquilatarmos os efeitos deste primeiro contato de Elza com o nosso irmão enfermo. Retornarei à Estância de Amor onde estudarei o caso sob as apreciações de Venâncio; vocês mantenham-se alertas a qualquer eventualidade que possa alterar nossos planos. Depois que Afrânio partiu, Artur mostrou-se preocupado com o estado de saúde de Elizete, pois temia que isso viesse comprometer todo o nosso trabalho. Esperamos o amanhecer, Décio e eu alcançamos a rua em direção à casa de Elza. Devíamos colher ás impressões que ficaram gravadas na lembrança da jovem. Quando chegamos, Elza tomava o café matinal e ao mesmo tempo conversava com sua mãe. _ Tive outro sonho com Raul esta noite, mas não consigo me lembrar direito. Pareceu-me que estava doente, eu chamava por ele, que não me dava atenção. _ Você precisa esquecê-lo, procure se distrair, arrume um namorado – aconselhou a mãe. _ Esquece-lo será muito difícil. Embora as lembranças que ainda alimento não me façam sofrer, estão ainda muito vivas dentro de mim. É como se fosse um compromisso que deixamos para um outro dia, mas que ainda não terminou, é essa a sensação que eu sinto. _ Vê, Eduardo – disse Décio -. Por que Afrânio concentra as suas esperanças em Elza? Provavelmente sua ligação com Raul deve atender a propósitos que ora desconhecemos, mas que no desenrolar dos acontecimentos virão à baila com certeza. Vamos retornar à residência de Renato, aguardando ali o retorno de Afrânio. ” A MENINA ELIZA “Para atingirmos o objetivo que pretendo, precisamos contar com os seus préstimos, querido irmão Artur. _ Meus préstimos? – perguntou Artur admirado. _ Sim, querido irmão, vou pedir-lhe algo que me desagrada muito, mas torna-se imprescindível. _ Do que se trata? – perguntou Artur um tanto preocupado. _ Sei dos laços que unem você à menina Eliza, mas é preciso que se altere seu estado de saúde. Precisamos que seja acometido de convulsões periódicas seguidas de um estado febril. Artur levantou-se cabisbaixo, dirigindo-se para o quarto de Eliza. Eu o acompanhei. Debruçou-se sobre ela que já dormia, beijando-lhe a fronte, permanecendo ao seu lado ate o amanhecer. Afrânio passou-se nos suas recomendações: _ Vocês deverão concentrar seus esforços colaborando para que alcancemos em Elizete um estado emocional bastante voltado para a filha, que em breve deverá apresentar os primeiros sintomas de enfermidade. Usem se necessário for; os recursos sensitivos de Júlia que poderá ser de muita valia aos nossos propósitos. Décio deverá colaborar para que Renato, nesses próximos dias, se veja absorvido pelo trabalho na empresa a que se vincula. Depois de mais algumas observações, Afrânio retornou à nossa colônia. Passaram-se dois dias. Elizete cada hora mostrava-se mais tensa; a idéia de suicídio tomava corpo em sua mente, ate que naquela manhã, após Renato sair para o trabalho; começaram os primeiros efeitos das providências tomadas por Afrânio. Júlia, percebendo que Eliza não saíra do quarto como sempre fazia logo após a saída de Renato, foi ter com ela que dormia profundamente. Tocando-a, correu ao aposento de Elizete, despertando-a. _ Patroa, a Eliza está com muita febre! _ Como você sabe! _ Eu a toquei, ela está com o rosto avermelhado e bastante quente. _ Eu vou me levantar, isso não é nada, a menina sempre foi corada." Júlia retornou ao lado da menina, acordando-a. _ Você está bem? – perguntou-lhe. _ Estou cansada, dói á cabeça. _ Fique calma, a mamãe já vem. Naquele momento, Elizete entrou no quarto. _ Vamos ver se a menina está com manha para não ir à escola. Mas o termômetro logo acusou a febre alta. _ Júlia, ligue para o Renato. Ele precisa levá-la ao médico. Décio aproximou-se de Júlia, imprimindo-lhe uma sugestão. _ Por que a senhora não a leva? O Sr.Renato vai demorar muito a chegar até aqui. _ Nada disso, eu não tenho condições, sinto-me fraca, ligue para o Renato – insistiu Elizete, contrariada. Júlia foi para a sala na direção do telefone acompanhada por Décio que procurava senhorearlhe os pensamentos. Pegou o telefone. Quando ia discar, deteve-se por alguns instantes e, influenciada por Décio, recolocou o telefone no gancho, retornando ao quarto de Eliza. _ O Sr.Renato não se encontra na firma; disseram que saiu a serviço e que só retorna à tarde. _ O que vamos fazer? – falou Elizete, demonstrando certa tensão. _ A patroa precisa levá-la ao médico, vamos, eu acompanho a senhora. _ Calma! Deixe, eu raciocinar. Talvez seja apenas uma infecção na garganta, vou chamar o farmacêutico. Então Décio atuou sobre a menina que começou a chorar. _ Mamãe, estou com medo, a minha cabeça dói muito, estou tonta – disse Eliza, que parecia entrar em convulsão. _ Está vendo, patroa, precisa levá-la ao médico! Elizete prostrou-se pensativa, olhando a filhinha, e Artur aproveitou para envolvê-la nas mais puras vibrações de carinho, sensibilizando-a. De repente, a mãe levantou-se. _ Prepare-se, Júlia, nós vamos levá-la ao Dr.Mário. Em poucos instantes saíram em direção ao consultório do médico. No consultório, Dr.Mário examinou demoradamente Eliza e, não encontrando nada que justificasse um diagnóstico, requisitou vários exames. Enquanto eu acompanhava o atendimento da menina, Décio deslocara-se até a firma onde Renato trabalhava, a fim de influenciar na distribuição dos encargos, procurando sobrecarrega-lo de serviço naqueles dias. Depois de algumas horas, estávamos todos novamente na residência de Elizete. Ao chegar, após acomodar Eliza no leito, ela dirigiu-se ao armário onde guardava os remédios. Quando se preparava para tomar os calmantes, Júlia, induzida por Artur, interferiu convencendo-a de que precisava manterse lúcida devido à enfermidade da filha. Renato retornou pelo final da tarde, mostrou-se bastante preocupado com o estado de saúde de Eliza. _ Justo agora que me incumbiram de uma auditoria que não poderá sofrer interrupções. Você precisa se empenhar em cumprir todas as recomendações do Dr.Mário. Providencie amanhã todos os exames que ele pediu – falou Renato em tom severo com a esposa. Com isso criou-se o clima que desejávamos. Renato, absorvido pelo trabalho, obrigava Elizete, por força das circunstâncias, a várias incursões ao médico e aos laboratórios à cata de exames. Após vinte dias, ela estava totalmente absorvida pelo problema. O médico, ante as convulsões de Eliza e diante dos exames todos negativos, recomendou a internação da menina. Elizete desesperou-se, levoua a outro médico que lhe pediu os mesmos exames, exigindo que fossem feitos em outro laboratório. Ela atendeu e foi mais uma semana de corre-corre sem resultados, pois os novos exames confirmavam os outros feitos anteriormente, todos negativos. Desta vez o médico recomendou um neurologista, o que acabou provocando em Elizete um choque, levando-a a um abatimento profundo. A essa altura dos acontecimentos, Raul já encontrava dificuldades para se manter em sintonia com ela, sentia-se quase desalojado das suas vibrações de saudades e apego. Instalara-se nos pensamentos de Elizete um sentimento de culpa. Percebendo o abatimento da patroa, Júlia aproximou-se, interpelando-a: _ Posso ajudar em alguma coisa? Quer que eu prepare um lanche? A senhora precisa se alimentar. _ Júlia, estou com muito medo, os médicos estão escondendo alguma coisa de mim. Eliza continua com as convulsões, a febre foi dominada, por que ela continua sofrendo ataques? _ Vamos confiar em Deus, ele sabe o que faz, os médicos vão acabar descobrindo o que ela tem, e logo vai ficar boa. " Que ela tem, e logo vai ficar boa. _ Deus não existe, já não bastava perder Raul agora vejo que estou perdendo minha filhinha. _ Deus existe, patroa, reze para Ele nos ajudar. _ Gostaria de ter certeza de que Ele existe, mas não posso crer em um Deus que separa as pessoas que se amam, e faz sofrer uma inocente como a minha filhinha. Elizete começou a chorar copiosamente. _ Não chore, vamos rezar juntas para que Deus nos inspire uma solução. _ Você acredita mesmo que Deus existe? Júlia, inspirada por Artur, começou a falar-lhe: _ Deus existe! E é um Pai generoso! Que nos ama muito nós é que desesperamos por falta de confiança na Sua misericórdia. _ Se Ele existe, está me castigando, eu me revoltei com a morte de Raul. Agora Ele quer tirar-me também Eliza. Ajude-me, Júlia, eu sou culpada, eu a abandonei desde que Raul partiu tenho vivido somente das suas lembranças, abandonei Renato, o lar, ajude-me pelo amor de Deus. _ Calma, patroa, Deus não vai tirar sua filhinha, eu pouco posso ajudá-la, mas se a senhora permite vou chamar dona Florinda, ela é tão boa e poderá ajudar. _ Então vá, peça para ela vir até aqui. Júlia, saiu, retornando depois de algum tempo, acompanhada de dona Florinda, uma senhora bastante simpática. Fazia-se acompanhar do espírito de um médico que se aproximou dizendose chamar Armando. Narramos a ele os acontecimentos no que se prontificou ajudar. Logo em seguida, entramos todos no quarto onde Elizete se encontrava. _ Obrigada, por ter vindo, estou desesperada, faz quase um mês que Eliza adoeceu e os médicos não descobrem o mal que se abateu sobre ela. Estou com muito medo, perdi Raulzinho e agora vejo que vou perder também a minha filhinha. _ Calma, você não vai perdê-la, Deus é Pai e vai ajudá-la; confie na misericórdia divina e você verá em pouco tempo Eliza brincando novamente pela casa. _ A senhora acredita mesmo que isso seja possível? _ Acredito! E você também deve acreditar, vamos orar juntas para que Jesus nos ajude. Dona Florinda começou uma prece profundamente inspirada pelo Dr.Armando, estendendo suas mãos sobre Elizete. Esta acompanhou cada palavra tomada pelo pranto. Naquele momento Raul desprendeu-se dela projetando-se para o quarto que lhe pertencera. Após ser beneficiada pelo passe, Elizete conduziu dona Florinda ao quarto de Eliza. Ali, acobertada pelo Dr. Armando, atuou sobre a menina durante alguns minutos. Depois disso, reuniram-se na sala onde conversaram durante algum tempo; dona Florinda, inspirada por Artur, acendia a fé no coração de Elizete, ainda sensibilizada pelos efeitos da prece e do passe. Despediu-se, prometendo retornar no dia seguinte. Dr. Armando permaneceu ainda por algum tempo cuidando de Eliza. Elizete, reconfortada, acomodou-se ao lado da filhinha, olhando-a com ternura, acabando por adormecer ao seu lado. Afrânio retornou ao anoitecer. Informado dos acontecimentos, mostrou-se bastante otimista e, juntos, fomos ao quarto onde Raul se alojara. Ao entrarmos tivemos uma surpresa, ele estava sentado num dos cantos do aposento, movimentando-se à semelhança de um pêndulo. Tentamos nos comunicar com ele, mas foi em vão. Décio brincou durante alguns minutos tentando atrair sua atenção e não conseguiu. Observando atentamente Raul, Afrânio fez algumas considerações. _ Desalojado do mundo que o sustentava, recusa-se a assumir a realidade, imergindo no seu próprio mundo." _ O que o obrigou a retirar-se de junto da sua mãe?_ perguntei. _ As forças que o sustentavam resumiam-se nas lembranças vivas que Elizete cultivava, as quais se enfraqueceram diante da intensa preocupação que a envolveu em torno de Eliza. No momento em que dona Florinda, portadora de um forte magnetismo, atuou sobre eles, os laços enfraquecidos que ainda o mantinham preso a ela se romperam por completo, deslocando-o quase que instantaneamente. Depois de mais algumas considerações de Afrânio sobre o caso, fomos para a sala. Artur, mostrando-se apreensivo, perguntou-lhe: _ Creio que, diante dos acontecimentos desta tarde, Eliza esteja liberada desse processo, não é mesmo, Afrânio? _ Certamente que sim, compreendo sua justa preocupação, não só está liberada; como temos pressa em vê-la totalmente recuperada. Apenas desejamos que a cura seja atribuída aos préstimos de dona Florinda, a fim de que seja instalada a fé de Elizete cuja confiança em seu trabalho nos será potencial de recursos excelentes. Artur mostrou-se satisfeito, reassumindo alegria que durante aqueles dias havia sido empanada pela preocupação em torno da menina. Afrânio, depois de fazer algumas recomendações ao Décio, pedindo-lhe que permanecesse ao lado de Raul, chamou-me e nos dirigimos àquela praça que se tornara local de nossas meditações. Sob a paineira contemplei a noite clara denunciando a lua cheia; alguns namorados sentados nos bancos do jardim começavam a se retirar, pois passava das onze horas. Permanecemos em silêncio, eu meditava sobre o problema de Raul, o drama daquele pai, daquela mãe. Onde estariam as origens de tanta amargura e sofrimento? Provavelmente Afrânio as conhecia, pois se conduzia com segurança, determinando providências e recursos. Em dado momento, rompi o silêncio, arriscando uma pergunta. _ Quais são as possibilidades de trazermos Raul novamente à razão? _ Considerando os recursos de que dispomos em nosso plano, são muitas as possibilidades. O pouco que conheci na Terra a respeito do Autismo, ao qual vim familiarizar-me somente aqui em nosso plano, sei que poucos são os sucessos alcançados entre os encarnados. _ Qual a razão desse insucesso? _ O Autismo é um estado de alma, é uma posição mental em que se coloca o espírito encarnado ou desencarnado. Não se trata de uma deficiência orgânica, isso tem sido demonstrado nos testes e exames feitos pelos estudiosos do assunto, não se iguala a um excepcional comum, cuja encarnação está sujeita às limitações de um cérebro lesado ou deficiente. Geralmente o Autista encarnado apresenta-se numa organização física que corresponde à normalidade dos reflexos e sentidos, apenas pela posição mental em que se encontra rejeita usar tais recursos. O insucesso que experimentam os colegas encarnados deve-se à falta do conhecimento das causas que levam um espírito a assumir tal atitude. Enquanto a mente acadêmica não se voltar seriamente às pesquisas no campo do espírito eterno, a fim de remontar às causas legítimas que envolvem a mente humana em problemas diversos, incluindo-se o do Autismo, dificilmente encontrará soluções adequadas. Em nosso plano, porém, o quadro de soluções se altera profundamente, pois dispomos do conhecimento da causa. Basta reconstituir um clima emocional ao qual o paciente se identifica, oferecendo-lhe uma compensação à altura dos valores em que se viu lesado, para que se sinta novamente atraído ao mundo do qual se ausentou mergulhando em si mesmo. Geralmente o Autista é um espírito fraco de vontade que se viu lesado nos sentimentos; julgando-se impotente para reaver ou reconquistar tais valores, retrai-se para dentro de si mesmo, abdicando da razão para sustentar-se do emotivo que, embora sem manifestações exteriores, continua ativo, guardando uma sensação de gozo ou sofrimento. Por isso mesmo, torna-se difícil alcança-lo pelos caminhos da razão, somente através do emocional poderemos auxiliá-lo, resgatando-o dessa situação. _ Quais os recursos emocionais que pretende usar no caso de Raul? – perguntei. _ Vamos recorrer novamente aos préstimos de Elza. _ Acredita que ela guarda consigo valores eqüitativos aos que Raul se viu despojado no momento que desencarnou e agora, quando se viu obrigado a deslocar-se das vibrações da mãe, em cujo amor doentio se refugiava? _ Raul, através dos tempos, vem se dividindo entre o amor das duas, demonstrando uma carência afetiva insaciável. Elizete oferece-lhe o amor possessivo e dominador, no qual se compras; Elza, o amor terno e passivo que lhe dá prazer, mas ao mesmo tempo gera um estado de insegurança que atormenta. _ Por que a insegurança? _ O amor de Elza representa para ele responsabilidades que jamais cogitou em assumir, levando-o a refugiar-se em Elizete, um espírito forte e dominador, ao qual se habituou a depender e confiar cegamente. _ Então é um espírito fraco e omisso? _ Exatamente, por isso mesmo assumiu a postura com que se nos apresenta, omitindo-se do mundo exterior, pois o único mundo que lhe oferecia segurança foi destruído, quando Elizete, se desligou dele, atraída por uma preocupação maior do que a sua ausência”. PASSADO E PRESENTE "_ Quando pretende trazer Elza à sua casa presença? – perguntei. _ Provavelmente amanhã, por isso, a partir do amanhecer que se aproxima, você deverá empenhar-se em acompanhá-la, preparando-a para uma nova investida. Após essa recomendação, despedimo-nos, aproveitei o resto da madrugada para visitar meus familiares encarnados. Ali abracei os entes queridos do coração, atenuando a saudade que experimentava periodicamente. Naquele dia, permaneci ao lado de Elza o tempo todo. Por volta das dezoito horas, quando se preparava para deixar o escritório, chegou um jovem procurando pelo seu chefe; ela o encaminhou até a mesa dele, retornando à sua escrivaninha. Guardava seus utensílios, quando os dois se aproximaram dela. _ Elza, este é Sérgio, filho do nosso gerente de vendas, ele precisa de um requerimento, você não se importa em prepará-lo? _ Tudo bem! _ respondeu sentando-se novamente. O jovem acomodou-se sentado à sua frente e começou a ditar o tal documento. Observando os dois, notei que a presença do jovem alterava o psíquico de Elza, sua aura acentuou-se numa fulguração alaranjada com nuances avermelhadas. Ele a deixava perturbada, errou várias vezes na preparação do requerimento. Eram dezoito e quarenta quando terminou. Ele, muito gentil, agradeceu dizendo: _ Muito obrigado, sinto tê-la retardado até agora, o máximo que posso fazer é me oferecer para levá-la para casa. _ Não é necessário, eu moro perto daqui. _ Eu insisto, se você me permitir, será um prazer. _ Você é quem sabe – concordou. Então saíram; eu os acompanhei acomodando-me no banco traseiro do carro. No caminho, os dois se corresponderam na troca de galanteios, acontecera o que chamamos de amor à primeira vista. Quando pararam o carro na porta da casa de Elza, compreendi que a única atitude que me cabia era descer, pois dali para frente continuaria aquele “blábláblá” que todos conhecemos. Retornei à casa de Elizete onde juntamente com Décio e Artur aguardamos a chegada de Afrânio. O ambiente naquele lar sofrera sensível transformação, Eliza estava quase recuperada gozando do carinho da mãe que lhe faltara durante mais de um ano e meio. Salvo a condição de Raul, poderíamos afirmar que tudo havia voltado à normalidade. Estávamos fazendo uma súplica através da prece, pedindo em favor de todos envolvidos naquele drama, quando Afrânio chegou. Inteirado dos acontecimentos ocorridos durante o dia naquele lar, pus-me a narrar o acontecido com Elza. Após contar-lhe em detalhes, perguntei-lhe: _ Esse envolvimento dela com Sérgio não vai prejudicar nossos planos? _ Muito pelo contrário. Cumpre-se em Sérgio parte importante de um plano que no desenrolar dos acontecimentos vocês compreenderão. Devemos entender que, além das nossas atividades em favor dos nossos irmãos, a providência divina está agindo constantemente em favor deles e de todos, para que se cumpram os desígnios de Deus. Em momento nenhum das nossas vidas estamos entregues ao acaso. Se analisarmos todas as circunstâncias que nos envolvem durante cada dia de nossas vidas, mesmo, as mais desagradáveis; saberemos reconhecer, a mão generosa de Deus agindo em nosso favor. Afrânio, quando falava, transmitia-nos muita segurança, suas convicções estavam amparadas pela dedicação e pela fé que possuía. As horas avançavam quando me recomendou que fosse buscar Elza. Ao chegar à residência da moça, irmã Clara me recebeu, conduzindo-me ao seu quarto. Ela dormia ao lado do corpo, no momento em que me aproximei despertou, não me reconheceu. Irmã Clara imediatamente esclareceu sobre a minha presença e em poucos segundos estávamos descontraídos. Conquistada a sua confiança, nos deslocamos em direção a Raul. Afrânio nos aguardava na sala, aproximou-se dela, abraçando-a carinhosamente. _ Deus te recompensará pela boa vontade em nos ajudar junto a esta família que neste momento precisa mais do que nunca de mãos amigas que se estendam oferecendo auxílio e compreensão. Raul, afastado agora da influência da mãe, experimenta profunda sensação de insegurança, imprevidentemente projetou-se dentro de si mesmo, rejeitando o mundo exterior, construindo o seu próprio mundo. Tira-lo agora desse mundo torna-se" Tarefa quase impossível, no entanto poderemos oferecer-lhe um outro que lhe devolva a segurança que perdeu. Você poderá ser esse mundo. Pedimos que o envolva em vibrações de carinho para que através do seu amor possamos resgatá-lo. Elza não titubeou em aceitar; parecia ansiosa para revê-lo. Entramos no quarto. Amparada por Afrânio, aproximou-se, sentando-se ao seu lado, ali permanecendo até quase o amanhecer, acariciandoo e envolvendo-o em suas vibrações amorosas. Aquela cena repetiu-se durante vinte três noites seguidas. Elza deslocava-se para ali espontaneamente sempre no mesmo horário. Foi na noite seguinte em que se completava a vigésima quarta investida de Elza que Afrânio registrou intensa atividade mental em Raul. Envolvido naquele clima ameno que Elza lhe proporcionava, buscava através do pensamento recordações que marcam forte o seu relacionamento com ela, acabando por avançar em um passado distante. Afrânio, colocando a mão sobre ele, estimulou tais lembranças, as quais; passou a registrar. A cena em que se detinha Raul era nítida em sua mente. Um jovem acompanhado de uma jovem viajava sobre um veículo semelhante a uma carruagem, puxado por dois animais em disparada; pelo lado de fora, um outro jovem, agarrado ao veículo, tentava embarcar. Em determinado momento, o jovem embarcado, armado de um pedaço de pau, desferiu um violento golpe na cabeça do rapaz, que caiu sob as rodas do veículo, morrendo instantaneamente. No momento em que essas recordações se tornavam mais fortes em sua mente, Raul agarrou a mão de Elza, segurando-a com força. Foi à primeira reação que registramos no comportamento dele durante todas aquelas noites. Elza retornou ao corpo e nós ficamos ali por algum tempo, avaliando os acontecimentos. Quando Afrânio nos narrou as lembranças que havia registrado, pudemos compreender que se tratava de Raul e Elza em um pretérito distante cujo crime praticado por ele justificava a morte por acidente a que se submeteu nesta encarnação. Afrânio ainda nos esclareceu: _ O rapaz vitimado por Raul na cena que registramos é Sérgio, o jovem que vai desposar Elza. Após esta revelação, Afrânio não nos deu espaço para perguntas; despediu-se retornando para a Estância de Amor. Eu e Décio permanecemos cumprindo nossa vigilância naquele lar. Muitas noites se seguiram, nossos esforços pareciam perder-se no tempo. Completávamos o terceiro mês de nossas atividades em torno daquela família. Raul mostrava-se inacessível aos apelos de Elza, que demonstrava, a cada encontro, maior dedicação e carinho. Até que, em uma das noites que se seguiram, Afrânio percebeu certa agitação, em Raul; mostrava-se nervoso, acelerando a sua movimentação como pêndulo. Elza chegara naquele momento. Com a sua presença pareceu acalmar-se, pegou em sua mão segurando-a com firmeza, então ela começou a cantar uma canção que marcara um momento de muita emoção quando namoravam. Raul não resistiu, aos poucos, voltou-se para ela; olhou bem fundo nos seus olhos que naquele momento brilhavam de emoção, abraçou-a e começou a chorar. Elza afagou-o carinhosamente, envolvendoo em seus braços, li ficaram durante horas sob o nosso olhar de contentamento. Afrânio os envolveu em suas vibrações e os conduziu para a casa de Elza. Ela se acomodou no corpo físico adormecendo profundamente. Raul, imantado a ela, deitou-se ao seu lado no que Afrânio aproveitou para magnetizá-lo, aplicando-lhe a sonoterapia. Após entregá-los à vigilância da irmã Clara, retornamos ao lar de Renato. Artur nos aguardava ansioso; não conseguia conter a alegria e, num momento de muita emoção, elevou uma prece a Deus, agradecendo o nosso esforço. Afrânio, abraçando-o, afirmou: _ Artur, dedicado amigo, nada nos deve, senão a Jesus que nos tem sustentado ao longo do nosso trabalho e que, com certeza, continuará nos amparando, até que alcancemos à normalidade desejada, tão necessária aos nossos irmãos envolvidos nesse drama. Naquele clima de fraternidade, percebi que a sensação de cansaço que eu experimentara momentos antes desaparecera. Afrânio e Décio retornaram para nossa colônia, eu fiquei com Artur para observar os acontecimentos daquele dia que já começava a clarear. Júlia, como sempre, foi a primeira a levantar-se. Preparava o café da manhã, quando Renato e Elizete surgiram na cozinha, comentando com alegria o restabelecimento da saúde de Eliza. Sentaram-se à mesa, Júlia abriu o diálogo. _ Graças a Deus tudo parece ter voltado ao normal besta casa. Eliza está forte e brincando novamente. _ Devemos agradecer a Deus e a dona Florinda que foi tão amiga, cuidando todo esse tempo de Eliza – falou Elizete. _ Sabe, patroa, existem certos males que vêm para curar outros maiores – falou Júlia, inspirada por Artur. _ Concordo com você – afirmou Renato. Nisso entrou Eliza, procurando o colo de Elizete. _ Como está a minha filhinha? _ Estou bem, mamãe, tenho fome, quero café. Renato sorriu, deixando transparecer sua felicidade, sentiu naquele momento que a esposa querida estava de volta à realidade, foram quase dois anos de angústias e sofrimentos. Levantou-se, abraçou a esposa e a filhinha beijando-as carinhosamente, e despediu-se indo para o trabalho. Elizete, conduzida à fé pela dedicação de dona Florinda, abandonou os calmantes, o que lhe restituiu a beleza física que lhe era própria. Renato, inspirado por Artur, convenceu-a de que a casa precisava de uma nova pintura e que o quarto que pertencera a Raul teria que se transformar em seu escritório, pois estava sobrecarregado de serviço e pretendia trabalhar à noite. Nosso trabalho naquele lar parecia findo. Quando Afrânio e Décio retornaram à noite, despedimo-nos de Artur que ficou nos acenando emocionado. Fizemos uma parada sob aquela paineira na praça próxima dali. Afrânio sentia-se feliz com os resultados alcançados até aquele momento. _ Quanto tempo ainda deverá permanecer nosso irmão submetido à sonoterapia? – perguntou Décio. _ Em breve o despertaremos; preocupa-me a sua reação, não se sabe qual será! ao retornar à consciência. Esperamos que associe, em primeiro plano no campo emotivo, à figura de Elza, caso contrário, prevalecendo à atração pela mãe, teremos sérios problemas. Por medida de segurança, vamos conduzi-lo a um núcleo de colaboradores encarnados cuja reunião se realizará amanhã, como acontece; todas as semanas! Já entrei, em contato com Felipe, o coordenador naquela instituição; estará nos esperando com os recursos necessários. Décio, você deverá providenciar para que Elza esteja recolhida no leito às vinte e uma horas. Use dos recursos de que dispõe no campo do magnetismo, acometendo-a de sonolência acentuada desde o final da tarde, pois poderemos necessitar da sua presença em determinado momento. Os irmãos socorristas que servem naquele reduto de trabalho irão buscá-lo por volta das vinte e uma horas, quando deveremos star presentes ali para acompanhá-los. Depois destas orientações eu e Décio nos descontraímos, brincando com as folhas caídas da paineira, chutando-as como se fossem bolas; lembrei-me quando jogava futebol de salão e meu pai era o meu maior torcedor. Em determinado momento, fomos surpreendidos por uma turma de jovens desencarnados que, de pronto, entraram na nossa brincadeira; eram quase todos nossos conhecidos, muitas vezes fomos juntos a Uberaba recepcionar nossos familiares. Estávamos todos envolvidos pela euforia própria a acontecimentos como aquele, quando fomos advertidos por Afrânio de que poderíamos desequilibrar nosso padrão vibratório e que, estando na crosta; corríamos o risco de atrair espíritos inclinados à desordem, o que nos causaria problemas indesejáveis. Após atendermos à advertência de Afrânio sentamo-nos, conversando durante horas. Carlos, um dos jovens ali presentes, informou-nos que eles vieram participar, de uma reunião ocorrida naquela noite em uma instituição próxima dali. Comentamos sobre a dificuldade que enfrentamos até conseguirmos pacificar os corações maternos que deixamos pulsando na Terra. Muitos daqueles jovens estavam ainda empenhados em consolar os entes queridos, que se mostravam ainda arredios aos apelos da consciência com relação à vida eterna. Indagado quanto ao problema, Afrânio se prontificou a opinar, emprestando seus conhecimentos. _ Tenho aprendido em minhas experiências, no que se refere ao estudo da mente, que o consolo excessivo se assemelha à lenha que sustenta o fogo que a consome, quanto mais lenha, mais fogo. Para muitas mães, as vossas mensagens representam; além do consolo que ofereceram um vigoroso estímulo à fé, conduzindo-as encontro de um conhecimento maior. Entretanto, para muitas serviram apenas para evitar um mal maior nos momentos mais angustiantes, tornando-se posteriormente fortes vínculos, os quais tentam manter desesperadamente, reclamando dos filhos uma constante comunicação. Esquecem-se de que os filhos, ora desvinculados dos processos da vida na matéria, foram chamados a outro plano de responsabilidades, nas quais raramente se incluem contatos permanentes com os círculos familiares, aos quais já não se submetem, embora cultivem os laços de amor que os caracterizaram. Muitas dessas mãezinhas queridas, mantendo o campo emotivo em desequilíbrio, às vezes sob o disfarce da compreensão, peregrinam pelos centros espíritas à cata de mensagens. Alguns médiuns, envolvidos pelo emocional que as acompanha, assimilam seus anseios e, em meio ao psiquismo predominante no momento geram mensagens de um suposto consolo, contribuindo imprevidentemente para alimentar tal obsessão. Muitos dos jovens desencarnados, conscientes dessa realidade, ausentaram-se das comunicações, empregando seus esforços em conduzi-las aos núcleos de estudos e de trabalho, procurando integrá-las às atividades assistenciais. Só o conhecimento exerce o verdadeiro consolo às dores da alma, os demais artífices são paliativos, sustentando o sofrimento enquanto predomina a ignorância da causa. Conhecendo-se a causa, tornase compreensível o motivo, atenuando-se os efeitos, os quais se tornam suportáveis. Imaginemos se fôssemos desconhecedores das ciências médicas e dos recursos cirúrgicos, e em determinado momento surpreendêssemos um filho querido submetendo-se a uma cirurgia com as vísceras expostas. Provavelmente entraríamos em pânico, tentando arranca-lo das mãos que o beneficiam naquele momento, garantindo-lhe a vida. Jesus, conhecedor profundo das carências humanas, quando se referiu ao Espírito de Verdade, sabiamente o cognominou de O Consolador prometido; hoje o reconhecimento manifesto na Doutrina Espírita, exercendo a consolação perene através do conhecimento que transmite à humanidade. Arrebatados pela orientação de Afrânio, nem nos apercebemos que o amanhecer nos surpreendia. Despedimo-nos rapidamente. Eu e Décio, junto com Afrânio, retornamos à Estância de Amor, deixando aqueles jovens nos acenando. Décio e eu cumprimos nossas obrigações em nossa colônia, visitando os companheiros que ainda não se locomoviam, levando a eles o bom ânimo. Aguardávamos ansiosos à chegada da noite; quando deveríamos nos reunir novamente com Afrânio, a fim de conduzirmos Raul ao grupo de encarnados que iriam colaborar conosco para desperta-lo. Décio retornara a Estanca conosco, porque a irmã Clara se prontificara em cuidar para que Elza estivesse recolhida ao leito no horário previsto”. O SOCORRO DE RAUL “Eram exatamente vinte horas e quarenta minutos quando chegamos à residência de Elza”. Ambos dormiam profundamente, quando chegaram os socorristas. Após a troca de cumprimentos, acomodaram Raul em uma maca; e todos, partimos em direção ao local onde se efetuaria o socorro. Elza, ainda sob a influência da irmã Clara, ficou dormindo junto ao corpo físico. Chegamos... Era uma pequena sala contígua a um salão. Sentados à volta da mesa, dois homens e seis senhoras. Em pé, um senhor conduzia os trabalhos, prestando-se à tarefa de esclarecimento. Augusto era seu nome. Em nosso plano, vários companheiros se desdobravam em auxílio há alguns irmãos que se mostravam enfermos e a outros aparentemente desesperados. Em poucos instantes o ambiente esvaziou-se, ficando apenas Felipe, os socorristas e nós, além dos irmãos encarnados. Aproximaram Raul de uma daquelas senhoras. Felipe e Afrânio atuaram sobre ele, Augusto, sobre a médium. Em poucos segundos, ela mostrava-se envolvida por forte sonolência, como registrando o estado em que ele se encontrava. Raul, por sua vez, agitava-se na maca, ameaçando despertar. Ainda sonolento; amparado por Felipe e Afrânio, foi colocado em pé ao lado da médium. Com o auxílio que recebia foi se ajustando à organização mediúnica que pareceu revigorar-lhe o raciocínio. _ Onde estou? - perguntou por meio da psicofonia. _ Calma, meu irmão, está tudo bem, você está entre amigos - falou Augusto, inspirado por Felipe que conduzia os trabalhos. _ Quem são vocês? O que querem de mim? _ Queremos ajudá-lo, procure acalma-se. _ Onde está minha mãe? Que lugar é este? Nisso, Afrânio fez um sinal ao Décio que partiu em busca de Elza. _ A sua mãe está bem, logo você a verá. _ Eu quero minha mãe, soltem-me, eu preciso ir ao encontro da minha mãe. Por que vocês estão me segurando? Soltem-me. Naquele momento, achava-se realmente preso laços fluídicos que o envolviam, atendendo às providências que Afrânio havia tomado. Continuou agitando-se, querendo libertar-se. _ Eu preciso voltar para casa, soltem-me, por favor, soltem-me. _ Meu irmão, você está entre amigos que querem ajudá-lo, procure se controlar. Veja, tem alguém aqui que o ama muito e quer conversar com você. Elza já estava presente. Aproximou-se dele. _ Sou eu, Elza. Está tudo bem, essas pessoas são nossas amigas e querem nos ajudar, ouça os seus conselhos, vão lhe fazer bem. _ Eu preciso de ajuda, estou confuso, abrace-me, por favor. Elza envolveu-o em seus braços e, amparada por Afrânio, ajudou-o a desembaraçar-se da médium, entregando-o aos nossos cuidados. Ajudados pelos irmãos socorristas, retornamos à Estância de Amor, conduzindo Raul que chorava muito. Elza retornou ao corpo, conduzida por Felipe que a entregou à irmã Clara. Já em nossa colônia, acomodamos Raul em uma cama no pavilhão de enfermaria. Ficando com ele até quase o amanhecer. Depois de tanto tempo sob a obsessão em que se encontrava, mostrava-se bastante batido, suas feições assemelhavam-se às de um náufrago após muitos dias perdido no mar, seus olhos avermelhados e sem brilho nos lembravam os alcoólatras vencidos pela bebida. Acomodado no leito, conversamos: _ Como você está? – perguntei. _ Sinto muito frio. _ Essa sensação vai passar, procure relaxar. _ Por que Elza não nos acompanhou? _ Estava tarde, ela precisava recolher-se. _ E minha mãe, por que não está aqui? _ Ela virá, procure descansar. _ O que aconteceu comigo? _ Você sofreu um acidente, e esteve desacordado um bom tempo. _ Estou meio tonto e sua voz parece distante. O que é aqui? Um hospital? _ É mais que um hospital, é como se fosse a nossa casa. _ Sinto-me como se tivesse acordado de um sonho, as lembranças fogem-me, não Consigo concatenar os pensamentos. _ Aos poucos você vai se recuperar, então lembrará de tudo, agora, procure dormir. Conversamos um pouco mais, até que ele adormeceu. Afrânio nos convidou para irmos ao edifício dedicado às orações em nossa colônia. Ali oramos juntos, agradecemos a Deus pela força que nos deu e por todos os recursos que a sua misericórdia nos dispensou enquanto trabalhávamos na crosta, estávamos felizes. Raul, amparado, descansava do sofrimento, Elizete e Renato desfrutavam da paz que esteve ausente tanto tempo, Elza preparava-se para o seu casamento com Sérgio que aconteceria nos próximos dias, tudo caminhava para a normalidade que, desejávamos”. A RESISTÊNCIA DE RAUL “Passaram-se duas semanas. Raul, sob a assistência dos benfeitores de nossa colônia, recuperava-se rapidamente. Não se recordava de nada do que tinha acontecido; ainda dominado por certo torpor, mostrava-se ansioso por saber de tudo. Seu bisavô constantemente o visitava, porém Raul não o reconhecia, pois o único contato que manteve com ele fora no dia do acidente e nos dias que lhe seguiram naquele hospital onde houvera sido recolhido. Afrânio, eu e Décio, como fazíamos todos os dias, fomos visitá-lo naquela tarde. _ Como você está? _ Eu me sinto estranho, tenho a impressão de que há anos estou distante de casa, mas às vezes me parece tê-la deixado há instantes. A lembrança de casa, quando se aviva em minha mente, principalmente quando lembro de minha mãe, é como se eu fosse cair de uma altura imensa. _ Você não se recorda de mim? – perguntou Elpídio, seu bisavô. _ Lembro-me vagamente. _ Fui eu quem te socorreu no dia do acidente. Nesse momento Afrânio vibrou intensamente sobre ele estimulando-lhe as lembranças. _ Eu morri... Eu morri!Vocês me enganaram, eu morri, preciso ver minha mãe. _ Calma, sua mãe está bem, já se passaram quase dois anos do dia do acidente. _ Agora eu me lembro, você é meu bisavô. _ Sim, meu filho, tenha bastante calma, estamos todos vivos com a graça de Deus. A morte não existe, o importante agora é nos adaptarmos a esta nova condição de vida, como vê, somos eternos. Elpídio envolveu-o num abraço e continuou conversando com ele, enquanto nos retiramos. Transcorridos quase três meses da chegada de Raul em nossa colônia, ele já se apresentava bastante seguro de si. Transitava pelos pavilhões relacionando-se com outros jovens, ouvindo de cada um deles narrativas as mais interessantes; muitos assemelhavam a ele nos problemas que haviam sofrido o que, para ele, constituía-se em relativo consolo. Todas as vezes que encontrava Afrânio, insistia, pedindo-lhe autorização para retornar à crosta para ver Elza e sua mãe. Até que um dia Afrânio se prontificou a conduzi-lo. Numa certa noite, fomos reunidos para essa finalidade. Raul mostrava-se eufórico, mal se continha na alegria que o dominava. Partimos, fomos primeiro ao encontro de sua mãe. Artur nos recebeu. Raul, informado sobre ele e de sua missão de guardião da família, abraçou-o demoradamente. Entramos no quarto de seus pais, ele aproximou-se deles carinhosamente beijando-o no rosto. Elizete desdobrou-se do corpo correspondendo ao carinho do filho, estava tudo sob controle, ela mantinha-se serena, demonstrando equilíbrio nas suas emoções. Passou pelo quarto de Eliza dedicando-lhe um carinho!E dali; partimos ao encontro de Elza. No caminho, Afrânio falou-lhe do seu casamento com Sérgio. Ao receber a notícia, tivemos que nos deter por alguns instantes, Raul chocou-se e negava-se a continuar ir ao encontro da jovem. _ Você deve prosseguir, torna-se importante familiarizar-se com a realidade que não pode transformar – falou-lhe Afrânio. _ Eu não podia ter morrido, fiz tantos planos e agora? O que faço? _ Você saberá o que fazer, breve você vai compreender, o importante agora é controlar-se para que não perca o equilíbrio das emoções. Convencido por Afrânio, resolveu prosseguir. Após o casamento, Elza mudara-se para um apartamento em um edifício próximo ao bairro onde morava. Entramos, Raul adiantou-se, o jovem casal dormia em um quarto contíguo à sala. Elza estava fora do corpo físico. Ao vê-lo, assustou-se, tentou afastarse, mas Raul a envolveu num abraço e os dois permaneceram por alguns instantes envolvidos carinhosamente. Afrânio fez-lhe um sinal, ele atendeu e nós saímos. No caminho, em retorno à nossa colônia, Raul manteve-se calado o tempo todo. Chegamos lá nos agradeceu, recolhendo-se ao dormitório, sem nos dirigir qualquer outra palavra. No dia seguinte, fomos vê-lo como sempre fazíamos. Estava na cama olhando para o chão. Décio brincou: _ O que é? Está contando os dedos do pé? _ Estava pensando sobre ontem à noite, é uma “barra” agüentar tudo isso. _ Você vai “tirar de letra”, não “esquenta” não, logo você se acostuma; a vida aqui é melhor que lá em “baixo” – falou Décio, acompanhando a gíria que Raul não conseguia evitar. _ Mas eu preferia estar lá. _ Isso não é bom “cara”, temos que aceitar a vida conforme ela “pinta” pra gente. _ Eu estava numa “boa”, minha mãe era “legal”, de repente “to” aqui noutra bem diferente, deixando lá minha “gata” nos braços de outro, sem poder fazer nada, não é fácil. _ Que, sabe você está destinado a voltar mais rápido do que imagina. _ Mas como? _ Reencarnando novamente. _ Até que era uma “boa”. _ Mas o importante agora é “maneirar”, procure se descontrair, visitando os “camaradinhas” dos outros pavilhões até que Venâncio o ocupe em alguma coisa. _ Ta “legal”, vou “maneirar”. Nisso chegaram vários jovens que souberam da incursão dele na crosta, começaram a interrogá-lo sobre a experiência por que passara diante dos entes queridos. Nós nos retiramos. Á tarde! Estávamos recolhidos ao nosso dormitório coletivo, quando Afrânio apareceu para nos visitar. Aproveitamos aquela oportunidade perguntandolhe qual era sua opinião sobre as condições com que Raul se apresentava. No que nos atendeu, solícito: _ Raul, apesar das aparências, guarda dentro de si muita insegurança, precisamos cercá-lo de nossas atenções, pois a qualquer momento pode nos surpreender com alguma atitude inesperada. _ Depois de tudo o que passou, arriscaria ainda agir incoerente com a realidade? – perguntou Décio. _ Não se sabe. Raul é um espírito ainda muito fraco, e essa fraqueza o tem comprometido ante as decisões mais importantes, optando sempre pela omissão nos momentos mais graves de sua vida, contraindo dívidas morais no curso de suas encarnações. Elza tem sido vítima das suas omissões, influenciado pelo espírito da mãe a tem feito experimentar a solidão e o abandono, mas a jovem, nessa trilha de sofrimentos, adquiriu bastante compreensão. Antes de reencarnar, ela se comprometeu a ajudá-lo, e seu amor por ele cresce a cada nova experiência na Terra. _ Como ela poderá ajudá-lo mais do que já ajudou até aqui? _ Elza e Sérgio preparam-se para recebê-lo como filho querido. Raul, como tal, gozará da influência dela desde pequenino, com certeza aprenderá com ela a ser forte e responsável. _ E Elizete? _ A nossa irmã, atendendo às necessidades do seu espírito comprometido com as leis de causa e efeito, experimentará a solidão e o abandono; Renato em breve retorna ao nosso plano. Eliza, quando atingir a juventude deixará o lar, partindo par um país distante, acompanhando o futuro marido. _ Raul aceitará submeter-se à condição de filho de Elza? _ É a única perspectiva para ele, caso rejeite, o ministério das reencarnações provavelmente promoverá a reencarnação compulsória. Esperemos que isso não venha a acontecer, vamos nos dedicar a convencê-lo das vantagens que isso representa. _ Hoje, Décio insinuou a possibilidade do seu retorno à Terá, ele pareceu gostar da idéia. _ Não se iluda, Eduardo, temos visto muitos espíritos decididos recuarem no momento de renascer, causando muitos transtornos aos benfeitores que se dedicam à tarefa de auxiliá-los nos processos da reencarnação. _ Então está confiante de que ele venha a aceitar? _ Apenas guardo algumas reservas, devido às experiências que tenho vivido, onde a mente humana tem me surpreendido a cada momento com reações inesperadas. Aguardemos os próximos dias, e peçamos a Deus que nos ajude, para que colaboremos com a sua vontade que visa à felicidade de todos nós. Afrânio despediu-se, deixando-nos para o descanso daquela noite. Passados alguns dias do nosso diálogo com Afrânio, caminhávamos eu e Décio pelo parque que circunda nossa colônia, quando encontramos Raul sentado sob uma árvore. Décio, sempre com bom humor, abordou-o, falando na gíria. _ Como é, “cara”, “ta numa boa”? _ “To” amargando aqui com as minhas dores. _ Qual é “cara”, onde está doendo? _ Aqui, bem no coração. Falou batendo no peito. _ Isso é mau, qual é o “grilo”? _ Saudades, saudades... _ De quem? _ De todos e de tudo, da vida lá em baixo, da “gata” principalmente. Preciso falar urgente com Afrânio, estou com vontade de voltar à crosta para ver o pessoal novamente, não estou agüentando a saudade. _ Afrânio irá encontrá-lo esta noite, eu acho que ele tem novidades para você. _ Espero que sejam boas. _ Provavelmente serão, pois tudo o que é feito nesta colônia é para o nosso bem. Conversamos ainda por algum tempo e pudemos perceber o descontentamento que apresentava ante a situação em que se encontrava. Percorremos a colônia, visitando quase todos os pavilhões, depois nos recolhemos ao nosso dormitório onde Afrânio nos aguardava. _ Como está Raul? – perguntou-nos. _ Bastante contrariado – respondi. _ Eu previa tal comportamento, essa atitude talvez venha a contribuir para que tudo se encaminhe em direção aos objetivos a serem alcançados. O seu retorno à crosta na condição de desencarnado se lhe afigura como um paraíso sem responsabilidades. _ Quando pretende comunicar-lhe a sua reencarnação? _ Pretendia esta noite, mas antes vou conversar com Venâncio. _ Podemos ajudar em algo? _ Sim, procurem distrair-lo conversem o mais que puderem, logo mais irei encontrá-lo no pavilhão de enfermaria. O sol, naquele momento, tingia a lua de vermelho, formando maravilhoso crepúsculo. Dirigimo-nos ao pavilhão onde se encontrava Raul e lá ficamos conversando com ele. Raul mostrava-se arredio às nossas interpelações, parecia ocultar-nos algo que guardava dentro de si. Afrânio tinha razão, ele pretendia alguma coisa que não queria que soubéssemos. Percebia-se pelas perguntas que nos fazia. _ Vocês já foram sozinhos à crosta? _ Sim, algumas vezes, por quê? _ Vou poder ir algum dia? _ Sim, desde que demonstre estar plenamente equilibrado para isso. _ Que tipo de equilíbrio? _ Das emoções principalmente. _ Caso contrário ficarei preso aqui eternamente? _ Não. Você é livre, só que não é aconselhável tal investida sem que esteja preparo para isso. _ Se eu quiser ir embora agora, o que pode me acontecer? _ ninguém vai impedi-lo, só que você vai se comprometer gravemente com as leis que ora o beneficiam, perdendo valiosas oportunidades de libertação legítima. Sabe, sinto-me fortemente atraído por Elza, e isso está crescendo dentro de mim e a cada dia torna-se irresistível, sinto que preciso estar perto dela. Nesse instante, Afrânio chegou, ouvindo esse desabafo de Raul. _ Como está, meu querido irmão? Perguntou Afrânio, acomodando-se entre nós. _ Estou bem – respondeu timidamente. _ Como é, gostaria de uma nova incursão na crosta? _ É o que mais desejo neste momento. _ Vou preparar para os próximos dias, procure participar das atividades em nossa colônia, para que não fique muito ansioso aguardando o momento de nossa jornada. Assim que nos for permitido, viremos buscá-lo. Afrânio fez um sinal e nos despedimos, saindo com ele em direção ao nosso dormitório. Estava surpreso com a atitude dele, pensei que ia comunicar-lhe a necessidade de retornar às experiências na matéria e ele o convidava para um passeio na crosta! Chegamos ao dormitório. Décio não agüentou a curiosidade e perguntou-lhe: _ O que aconteceu que fez com que mudasse os planos? _ Analisei o caso juntamente com Venâncio e dois benfeitores da área das reencarnações que foram unânimes em afirmar que devíamos confrontá-lo novamente com Elza antes de lhe darmos a notícia. Talvez o comportamento que assumir venha a contribuir ao desiderato da reencarnação. _ E se ele se negar a retornar conosco? _ Vamos aguardar, não nos antecipemos aos fatos. Afrânio despediu-se, deixando-nos com algumas recomendações referentes a Raul. Passaram-se três dias daquela noite. Raul comportou-se segundo a orientação de Afrânio, ajudou nas tarefas colaborando com os jovens que trabalhavam no parque, cuidando das flores e das árvores. Afrânio havia nos comunicado que podíamos avisá-lo que naquela noite o levaríamos à crosta. Aproximamo-nos dele, enquanto se dedicava a um pequeno jardim de flores silvestres. _ Como é, amigão, vamos passear?- perguntou Décio. _ Só se for já - respondeu sorridente. _ Já não, mas à noite é certeza, Afrânio pediu para avisá-lo. _ Verdade? Eu pensei que era “papo furado” dele só para me acalmar. _ Afrânio não iria usar de argumento falso com você, concorda? _ É, realmente, ele tem sido um “cara bacana” comigo. _ Quando for o momento, nós vamos buscá-lo lá no pavilhão, vai se preparando. _ Fiquem tranqüilos, estarei esperando numa “boa”. Caminhávamos em direção aos pavilhões que ainda não havíamos visitado naquela manhã, quando Afrânio surge ao nosso lado. _ Ué, de onde você veio? _ perguntei surpreso. _ De lugar nenhum, estive o tempo todo ao lado de vocês. Nós só não podemos nos ocultar daqueles que nos são superiores. _ Então você esteve invisível o tempo todo enquanto conversávamos com Raul? Assistiu ao nosso diálogo? _ Naturalmente que sim, ali estive com essa finalidade a fim de aquilatar as reações dele. _ Foram normais? _ Até certo ponto, sim. _ E hoje à noite na crosta o que você acha? _ Vamos aguardar, continuem a visitação nos pavilhões e logo mais nos reuniremos”. PERMISSÃO PARA VOLTAR "Afrânio seguiu em direção ao edifício central e nós; continuamos o nosso roteiro. Anoitecera. Eu e Décio aguardávamos a chegada de Afrânio. Comentávamos entre nós sobre a transformação de Raul, já não se via nele aquele jovem assustado, mas sim um espírito ardiloso, e um tanto resguardado e insatisfeito. Estávamos envolvidos nessas avaliações sobre o comportamento dele, quando chegou Afrânio. _ Estão prontos? – perguntou. _ Sim, partiremos já? – respondeu Décio. _ Agora mesmo, vamos apanhar o nosso irmão. Saímos ao encontro de Raul. Estava nos aguardando bastante tenso. Amparados por Afrânio, rumamos em direção à crosta. Chegamos àquela praça próxima da casa de Elizete. Afrânio fez-lhe algumas advertências, depois seguimos. Eram vinte e uma horas, entramos na residência; Estavam todos reunidos à volta da mesa da cozinha, Dona Florinda, Renato, Elizete, Júlia e Eliza. Aproximamo-nos, Artur e Dr.Armando nos acenaram! Dona Florinda acabava de ler um trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo. Desde a recuperação de Eliza, Elizete sofrera profundas transformações, aquela cena que assistíamos se repetia todas as semanas. Dona Florinda começou a comentar sobre a lição da noite, quando Raul, mostrando-se um tanto perturbado, dirigiu-se ao quarto que lhe pertencera, sentiu-se frustrado ao constatar a transformação dos seus aposentos em escritório. Voltou à cozinha, e, no momento em que faziam as orações onde citavam seu nome, correu para junto da mãe tentando envolve-la, mas foi em vão. Elizete, tomada pelo fervor da prece, irradiava uma tênue luz a sua volta o que lhe bloqueou as intenções. Dona Florinda, registrando-lhe a presença, falou de uma forma geral, abordando-o indiretamente: _ Se algum espírito foi atraído pelas nossas preces, receba neste momento nossa manifestação de carinho e compreensão, procure assimilar os ensinamentos dos benfeitores que os assistem, a fim de que possa assumir a nova condição de vida a que foi chamado, que Deus o abençoe, vá, na paz de Jesus. Naquele momento, Raul saiu à rua desesperado, eu fui ao seu encalço, mas detive-me ao vê-lo em desabalada carreira. Afrânio chamou-me e recomendou: _ Provavelmente foi ao encontro de Elza. Você vai acompanhá-lo o tempo que for necessário, ele não poderá perceber que está sendo acompanhado por você; eu e Décio vamos retornar à nossa colônia, mas continuarei atento para que, no momento oportuno, possamos auxiliá-lo novamente. Despedimo-nos e eu rumei apreensivo em direção à residência de Elza. Aquele encargo para mim era inédito nas minhas experiências de espírito desencarnado. Temia falhar ao ser descoberto por ele, orei bastante enquanto me dirigia ao apartamento de Elza. Entrei... O casal estava na sala assistindo à televisão. Quando vi Raul ao lado dela, reagi instintivamente, tentando ocultar-me. Abraçado a ela mostrava-se transfigurado, seus olhos tornaram-se vermelhos novamente, o corpo perdera as fulgurações que mantinha quando em nossa colônia, parecia mais velho. Sentido a sua influência, Elza demonstrava sinais de sonolência, desculpou-se com Sérgio dirigindose para o quarto. Passaram rente a mim. Quando percebi que ele realmente não registrara minha presença, acompanhei-os, ela já estava vestida com as trajes de dormir, Deitou-se, ele continuava abraçado a ela que logo adormeceu. Em determinado momento, ela começou a agitar-se tentando sair do corpo, mas ele a dominava, beijando-a e abraçando-a com volúpia. Nesse momento ela acordou gritando, o que atraiu Sérgio. _ O que aconteceu?- perguntou o esposo. _ Acho que tive um pesadelo. Sérgio acalmou-a ela acomodou-se novamente para dormir. Raul, desprendendo-se dela, colocou-se em pé à frente da cama, observando-a. Ela adormeceu novamente, em poucos instantes desdobrava-se do corpo. Quando viu Raul, afastou-se, temendo-o. _ O que você faz aqui? Onde estão os seus amigos?- perguntou-lhe, aflita. _ Desta vez eu vim só. Falou, aproximando-se dela, ela recuou sentindo que ele não estava bem. _ O que você quer?- perguntou-lhe. _ Eu vim para ficar, você me pertence, vamos ficar juntos para sempre. _ Isso não é possível, não vê que estamos em planos diferentes? _ Não importa, eu não vou voltar para aquele lugar, prefiro ficar aqui com você, mesmo nessas condições, agora ninguém pode me atrapalhar. Raul tentou agarra-la, mas ela escapou-lhe, refugiando-se no corpo e novamente acordou gritando com crises de choro. Sérgio, atraído novamente pelos seus gritos, veio ao seu encontro. _ Elza o que está acontecendo? _ Estou com medo, tive outro pesadelo, alguém tentava me agarrar. Sérgio foi até a sala, desligou o aparelho de televisão, deitou-se ao seu lado, acalmando-a. Nesse momento, Raul, demonstrando certa revolta, saiu para a rua. Eu o acompanhei, dirigiu-se para a casa dos pais, andando lentamente. No caminho, um grupo de espíritos embriagados que acompanhavam um alcoólatra encarnado barroulhe os passos como pedindo alguma coisa. Em determinado momento mostraram-se agressivos, então interferi mostrando-me a eles que, ao ver-me, se projetaram em desabalada carreira, tropeçando uns sobre os outros. Raul não me percebeu, continuando a sua caminhada. Doía-me vê-lo naquele estado, agia contra a própria felicidade. Eu já tinha acompanhado muitos casos de espíritos que nos primeiros momentos se revoltavam ante as circunstâncias da morte, mas em pouco tempo se reajustavam à nova realidade, tornado-se mais tarde a colaboradores da própria família. Raul mostrava-se diferente, agindo completamente oposto. Entramos novamente naquele lar. Artur, quando o viu, meneou a cabeça como que lamentando o estado dele. O jovem foi direto para o quarto da mãe. Ali sentou em um dos cantos, como que esperando que ela viesse ao seu encontro. Elizete, porém, dormia sem registrar-lhe a presença. O dia começava despontar, a claridade invadia o quarto através das frestas da janela. Raul adormecera. Renato levantou-se saindo para o trabalho, Elizete preparava Eliza para a escola demonstrando alegria, pois cantarolava baixinho, entretida com a filha. Já haviam saído quando Raul despertou, vasculhou a casa toda como quem procura alguma coisa e saiu para a rua novamente, andando agora mais apressado. Em poucos instantes estávamos no apartamento de Elza. Ela tomava café da manhã. Raul abraçou-a, beijandolhe abaixo da nuca, ela pareceu sentir, passou a mão no local suspirando profundamente!Enquanto se movimentava, ele acompanhava-lhe os movimentos, sugando-lhe as forças. Com muita dificuldade conseguiu preparar o almoço. Sérgio , quando chegou para almoçar, percebeu que ela não estava bem. _ O que você tem? Está abatida, sente alguma coisa? _ eu não sei, sinto um peso sobre minha cabeça, às vezes penso que vou desmaiar. _ Talvez seja gripe. _ Não sei não, será que não é por causa dos comprimidos que eu estou tomando? _ Pode ser, talvez tenha que substituí-los por outra marca. _ Você não acha que devíamos parar de evitar? Esses comprimidos não fazem bem à saúde, minha mãe sempre fala isso. _ Eu acho que é muito cedo para termos filhos, deixa eu me organizar primeiro. _ Você é quem sabe. _ Se piorar, ligue para mim, que eu venho apanhála para levá-la ao médico. Almoçaram e logo após Sérgio saiu. Raul mostrou certo contentamento. Elza não conseguiu terminar a arrumação da cozinha, acometida de sorte sonolência, provocada por Raul que não se desprendia dela, obrigando-a a deitar-se. Dormiu a tarde toda, dominada por ele. Quando Sérgio chegou à noite, precisou de muito esforço para acordá-la. _ O que foi? O que foi? – acordou assustada. _ Tudo bem, sou eu, acalme-se. _ Que hora são? _ São quase oito horas da noite. _ Como? Eu dormi até agora? _ Dormiu sim, não importa, você está bem? Elza contou-lhe o que havia sentido durante o dia, Raul, naquele momento, retirou-se alcançando a rua em direção à casa de Elizete. Foram quase quarenta dias que permaneci ao lado dele nesse vaivém. Elza, sob a influência dele, emagrecera visivelmente, peregrinando pelos médicos. Ele a dominava de tal forma que a fizera esquecer-se da fé que alimentava, privando-a dos seus recursos. Em uma das noites, quando Raul deixou a residência de Elza, eu permaneci junto ao casal com a finalidade de inspirá-la a buscar os recursos da Doutrina Espírita, atendendo à orientação de Afrânio. Sérgio chegou por volta das oito horas da noite. Elza preparava um lanche, pois se viu impossibilitada de cozinhar, dada a fraqueza em que se encontrava. Sentados à mesa, acompanhei o diálogo dos dois, colocando-me ao lado dela. _ O que vamos fazer? A cada dia estamos nos distanciando um do outro. Eu não tenho culpa de ter ficado doente, parece até que você não acredita em mim – falou Elza, quase chorando. _ Não é nada disso, apenas estou preocupado com você, os médicos não encontram nada que justifique seu estado se saúde. O Dr.Oliveira disse tratar-se de um esgotamento nervoso, aconselhoume a levá-la a um neurologista. _ Você acha que é da minha cabeça? _ Não sei, Elza, precisamos descobrir. Nesse instante atuei sobre ela, estimulando-lhe o ânimo. _ Por que não pensei antes? _ O que foi? –perguntou Sérgio preocupado. _ Nós vamos a um Centro Espírita. _ Você acredita que será uma solução? _ Quem sabe? Eu já li muito a respeito, pode ser mediunidade. Quando eu assistia às palestras na Federação Espírita, quase sempre abordavam a influência que sofremos por parte dos espíritos desencarnados, talvez seja este o meu problema. Sérgio relutou um pouco, mas acabou concordando em levá-la no dia seguinte. Deixei-os, retornando para o lar de Elizete onde Raul se encontrava. Afrânio aguardava-me, conteilhe sobre a resolução do casal, ele mostrou-se satisfeito. Raul estava acomodado no canto quarto, quando sua mãe, de madrugada, desdobrou-se do corpo em sua direção e acariciando-lhe a cabeça começou a falar: _ Meu filho, o que está fazendo com a sua vida? _ Não importa, você me abandonou. _ Eu não o abandonei, tenho orado bastante por você, desejo a sua felicidade. _ Agora eu tenho a felicidade que desejava, estou com ela e você não pode impedir. _ Raul, meu filho, depois que você partiu tenho aprendido muitas coisas boas, agora sei que não somos donos da vida de ninguém, muito menos das pessoas que amamos; mesmo nossos filhos não nos pertencem, devemos nos amar como irmãos. _ Deixe-me... Deixe-me. Senti-me penalizado ao vê-lo transfigurado daquele jeito. Parecia um molambo humano. Por outro lado, sentia-me feliz ao ver Elizete totalmente transformada, seu próprio espírito mostrava-se mais radiante. Lembrei-me das provações que ainda teria que enfrentar nos próximos anos, então pedi a Deus para lhe dar bastante força para superá-las. Afrânio despediu-se e eu aproveitei para descansar um pouco, pois me sentia exausto, aqueles dias absorveram-me as forças. Cochilei até o amanhecer. Artur acordou-me quando Raul se preparava para sair, eu o acompanhei. Logo que chegamos ao apartamento de Elza, Raul foi se ajustando a sua organização perispiritual tentando domina-la. Ela, porém, mostrava-se revigorada no ânimo, dificultando-lhe a manobra. Permaneci com eles até a noite, colaborando para que ela se mantivesse disposta a levar avante a decisão de comparecer à reunião”. RESGATANDO DÍVIDAS “Afrânio chegou quase no mesmo instante que Sérgio. _ Como é, está tudo sob controle? – perguntou-me. _ Parece que sim, pelo menos Elza está pronta, só aguardava a chegada de Sérgio. _ Ótimo! Raul, parecendo pressentir alguma coisa, começou a envolver Sérgio que se mostrou contrariado. _ Eu acho que não devemos ir; você não está bem e pode piorar. _ Vamos sim, eu já estou pronta – falou Elza decidida. _ Vamos só perder tempo, eu acho que isso é bobagem, você precisa mesmo é de médico. _ Nada disso, se você não for eu vou sozinha. Sérgio, contrariado, acabou concordando. Raul imediatamente, agarrou-se novamente em Elza causando-lhe mal-estar, mas mesmo assim ela se equilibrou em Sérgio e saíram. Entramos todos no carro, Raul nem sequer cogitava da nossa presença. Em poucos instantes chegamos ao local; era um salão pequeno com uma porta lateral, onde, para minha surpresa, dona Florinda recepcionava as pessoas que iam chegando. Elza conversou com ela, contou-lhe o que estava acontecendo. Dona Florinda então mandou que aguardassem, e que mandaria chamá-los. Eles se acomodaram nos bancos no meio da assistência. Dona Florinda dirigiu-se à frente do público presente, abrindo a reunião com uma prece, depois chamou um senhor que iniciou um comentário sobre o Evangelho. Enquanto se desenrolava sua palestra, dona Florinda atendia as pessoas com problemas de saúde, visto ser ela uma médium de cura. Sérgio e Elza foram chamados, entraram em uma pequena sala, onde ela falou novamente tudo o que estava sentindo, e o que acontecia com ela. Naquele momento, Dr.Armando, que assistia dona Florinda, cedeu seu lugar a Afrânio que dominando os recursos mediúnicos dela começou a falar: _ Irmã, você não tem nada fisicamente, nem sofre os sintomas da mediunidade que suspeita; apenas você precisa cumprir a missão de mãe, recebendo um filho em seu lar. _ Nós achamos que ainda é muito cedo – retrucou Sérgio. _ Irmão querido, como podemos saber quando é cedo ou quando é tarde para um renascimento? Só Deus sabe. Raul agitava-se enquanto dona Florinda falava sob a influência de Afrânio. _ A senhora acha que já estamos preparados? _ Não só acho; como devem providenciar o mais breve possível, caso contrário sua saúde correrá sérios riscos. Nesse momento Elza começou a passar mal, dona Florinda aplicou-lhe um passe, desligando Raul que, naquele instante, retirou-se em direção à rua. Após Sérgio também beneficiar-se do passe, retornamos ao salão, onde os dois se acomodaram até o encerramento da reunião. Aproveitando os momentos em que Sérgio ouvia o comentário do Evangelho, Afrânio atuou sobre ele, conscientizando-o da necessidade de ter um filho. Raul havia retornado para a casa de Elizete. Acompanhamos o casal até o apartamento deles. _ Raul, meu irmão, não se desespere, para tudo existe uma solução. Estamos aqui para isso, precisamos de sua colaboração. Sabemos da insegurança de que está acometido, por isso mesmo queremos oferta-lhe meios seguros de sair dessa situação difícil em que se colocou. O único caminho que nos aponta a misericórdia divina é a bênção do renascimento. Raul agitou-se quase em desespero, entregando-se ao pranto convulsivo. Após chorar muito, acalmou-se. _ Então, meu irmão? O que me diz? _ Eu não sei nada, estou com muito medo. _ Antes de você reencarnar foi feita uma programação incluindo o seu retorno quase imediato para novas experiências na matéria. Elza prontificou-se a recebê-lo nos braços como filho querido do seu coração. Naquele instante, o rapaz voltou a chorar. Afrânio atuou sobre ele, procurando fortalecê-lo. Venâncio insistiu, conversando. _ O que devo fazer? – perguntou assustado. _ Não se preocupe, apenas se entregue à nossa vontade, colaborando conosco com os seus pensamentos, dentro em pouco chegarão os benfeitores da reencarnação que nos ajudarão a prepará-lo." Não demorou muito e chegaram dois espíritos. Um deles, de barbas brancas, vestia-se com um traje longo. O outro era de aparência jovem e olhar penetrante. Sorriram nos cumprimentando. Eles, juntamente com Afrânio e Venâncio, rodearam Raul. _ Agora você nos ajude, concentrando seu pensamento em sua imagem do tempo em que era menino; mantenha essa imagem nítida na mente. Naquele momento, todos se transfiguraram diante de mim, o quarto foi tomado de uma luz diante de mim, o quarto foi tomado de uma luz prateada, deixando-os quase invisíveis aos meus olhos. Raul agitava-se como se estivesse em convulsão, aos poucos foi se retraindo até que se transformou em uma criança quase do tamanho de um recémnascido. Elizete, naquele momento, desdobrou-se do corpo físico dirigindo-se até ele, tomou-o nos braços, voltando-se para os benfeitores que pelo seu gesto compreenderam suas intenções. Concentraram-se novamente e todos nos vimos transportados para o apartamento do jovem casal. Elza estava fora do corpo, e registrou a nossa presença. Elizete entregou-me Raul e foi ao seu encontro. Ela afastou-se, temendo-a. _ Não tema, minha filha, quero abraçá-la, pedindo perdão pelo quanto tenho feito você sofrer. Elza abaixou a cabeça. Elizete aproximou-se, envolvendo-a num demorado abraço. _ Minha filha, vim reparar um erro que há muito nos tem feito sofre. Prisioneira do egoísmo; torneime cega durante tanto tempo que não conseguia enxergar a felicidade que você lhe oferecia. Graças ao sofrimento que venho experimentando, dobrome à realidade. Voltando-se para mim, tomou novamente Raul em seus braços, entregando-o a Elza. _ Em nome de Deus, entrego-o sob os seus cuidados, confiante de que você lhe dará a felicidade que eu não fui capaz. Elza o abraçou, envolvendo-o em suas vibrações de amor, olhou para nós, um por um e, expressando um sorriso de contentamento, retornou ao corpo com Raul ajustando-se à sua organização perispiritual. Venâncio fez um sinal, convidandonos a partir. Os benfeitores da reencarnação permaneceram. Nós, após acompanharmos Elizete em retorno ao corpo, seguimos rumo à Estância de Amor! Reunidos no gabinete de Venâncio, fizemos algumas considerações sobre os acontecimentos e nos recolhemos. Eu e Décio retornamos ao nosso pavilhão, cheios de contentamentos pelas experiências que havíamos vivido durante aqueles meses. Mais uma vez a bênção do trabalho se exaltou ao nosso entendimento, como o maior tesouro que a vida pode nos oferecer, principalmente quando dirigido a uma causa nobre e que envolve o bem-estar do nosso próximo. " FIM Livro digitado por: GLÓRIA RABELLO Revisado por: MÔNICA LEITE NOTA: Este livro foi digitado sem, qualquer intuito, financeiro; e sim, levar à boa leitura e esclarecimentos as pessoas que admiram a Doutrina Espírita.